Resumo

As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de administração pública definem como conceitos basilares o ethos republicano e democrático, a formação humanística, a capacidade de reconhecer a complexidade dos processos de tomada de decisão. Sinalizam a filosofia entre conteúdos básicos, a consciência ética, a capacidade crítico-reflexiva e de elaborar conceitos transdisciplinares entre as competências dos profissionais egressos. Para tanto, além do conhecimento da história da filosofia, faz-se principalmente necessária a capacidade de exercício do fazer filosófico.

Como se apresentam os conteúdos de filosofia nos currículos dos cursos de graduação – bacharelados e tecnólogos – em administração pública? Com base na análise dos projetos pedagógicos dos cursos, das ementas e dos planos de ensino disponíveis, como as disciplinas se alinham ao desenvolvimento das competências expressas nas DCN para a formação em administração pública? propõe uma reflexão sobre o ensino de filosofia na formação em administração pública a fim de verificar seu foco didático: se na história da filosofia ou na prática do pensamento filosófico.

Aborda a conformação mutidisciplinar do campo e estudos anteriores sobre o ensino de administração pública, estudos nacionais e internacionais sobre o ensino de ética em cursos do campo, e sobre a necessidade da reflexividade na formação em administração. Parte do senso de filosofia como tendo a função de criar conceitos em resposta aos problemas examinados. Destaca a filosofia como prática da problematização de natureza filosófica, para além dos recortes históricos.

Estudo qualitativo de natureza exploratório-descritiva. Por ora foram analisadas ofertas das 10 IES públicas do RS, SC e PR, onde existem 7 bacharelados e 6 cursos de tecnologia em administração e gestão pública, com 12 disiciplinas de filosofia. A coleta de dados – grade curricular, planos de ensino e projetos político-pedagógicos – foi realizada nos portais institucionais das IES. Constituíram objetos de análise as denominações, cargas horárias, ementas, conteúdos programáticos e bibliografias, sempre que disponíveis. Como técnica de exame dos dados destaca-se a análise documental.

A filosofia aparece predominantemente reduzida à ética, em denominação e conteúdo programático. Em dois casos a disciplina é de filosofia. Também como história da filosofia, em detrimento do fazer filosófico com duas exceções. A bibliografia indicada apresenta média de 8 textos, entre clássicos e manuais de filosofia, além de textos de outras disciplinas. Reduzida aderência dos textos à administração pública, com exceção de um único texto. Reduzida aderência das disicplinas às DCN para administração pública.

Os planos de ensino admitem aperfeiçoamentos em conteúdo programático, método e bibliografia. Predomínio do conteúdo histórico pouco contribui para a consecução das DCN, compromentendo o desenvolvimento das competências esperadas para o profissional da administração pública, pois precária uma orientação para a abordagem da filosofia como prática da problematização crítico-reflexiva que estenda o pensamento às suas raízes fundantes. É o pensar que transforma a ação, e não somente a leitura e domínio das respostas produzidas pelos diferentes filósofos aos problemas sobre os quais refletiram.

Bergue, S. (2022). Contribuições da problematização filosófica para o estudo da administração pública. Revista Eletrônica de Administração, 28(2), 1-32. Coelho, F. (2019). História do ensino de administração pública no Brasil (1854 – 2006): antecedentes, ciclos e a emergência do campo de públicas. Brasília: ENAP. Fuertes, V. (2021). The rationale for embedding ethics and public value in public administration programmes. Teaching Public Administration, 39(3), 252-269. Cunliffe, A. & Jun, J. (2005). The need of reflexivity in public administration. Administration & Society, 37(2), 255-242.