Demissão em Massa
Saúde Mental
Análise de Discurso Crítica
Área
Gestão de Pessoas
Tema
Bem-estar e Mal-estar no trabalho
Autores
Nome
1 - Wellyngton Ribamar Silva Poli UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Instituto de Ciências Agrárias
2 - Cledinaldo Aparecido Dias UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - Departamento de Ciências da Administração
3 - Júlia Salvador Argenta UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) - Darci Ribeiro
Reumo
A busca de desempenho organizacional alinhada à desvalorização do humano no trabalho sustenta um contexto em que as demissões em massa e downsizing aparecem como estratégias de negócio utilizadas de forma recorrente e persistente para reduzir custos e aumentar a eficácia organizacional (FRONE; BLAIS, 2020; VACLAVICK, 2017). Não se verifica qualquer preocupação com as consequências danosas que essas práticas causarão naqueles que por tanto tempo se dedicaram à organização e foram demitidos, bem como naqueles que remanescem na empresa (BIANCHINI, 2017).
Sob uma perspectiva crítica de análise e à luz da Sociologia Clínica, na busca de despertar novos olhares para as organizações, este estudo questiona: quais os impactos da demissão em massa na saúde mental de trabalhadores que passaram por esse processo, mas ainda permaneceram na organização? Para responder a esse problema de pesquisa, o trabalho delineia como objetivo identificar como os trabalhadores remanescentes de demissões em massa descrevem os impactos desse processo na sua saúde mental.
No intuito de gerar uma melhor compreensão acerca dos impactos de uma demissão em massa na saúde mental de trabalhadores remanescentes desse processo, a fundamentação teórica que sustenta as discussões do artigo revisita três temáticas, sejam: a Sociologia Clínica e os pressupostos da ideologia gerencialista de Vicente de Gaulejac (2007) como perspectiva teórica de análise; os aspectos que perfazem o processo de demissão, demissões em massa, downsizing e, por fim, as consequências desse processo na saúde do trabalhador.
Realizou-se entrevistas individuais com 10 pessoas de quatro empresas distintas que permaneceram empregadas depois da ocorrência de processos de demissão em massa nos últimos 12 meses, as entrevistas duraram em média de 40 minutos. A seleção dos entrevistados deu-se em duas etapas, a primeira por acessibilidade e a segunda tipo “bola de neve”. A análise dos dados foi desenvolvida a partir da Análise de Discurso Crítica, utilizando-se das categorias coesão, representação dos atores sociais, escolha lexical, metáfora, modalização e sistema de transitividade.
Foram identificados impactos em quatro eixos que perfazem a saúde mental do trabalhador remanescentes, como impactos na convivência social relacionados a fragilização dos laços sociais e a insegurança com os colegas. Na organização do trabalho foram identificados impactos como a sobrecarga de trabalho e aumento no ritmo. Identificou-se sentimentos emergentes após a demissão em massa como desmaios, convulsões e burnout resultantes da sobrecarga de trabalho, asssim como também verificou-se reduções nos hábitos de consumo causadas pela insegurança gerada com os processos de demissão em massa.
A partir do exposto, foi percebido que o trabalhador remanescente se encontra repleto de pressões, medos, desconfianças, transformações e inseguranças. Nesse processo, a gestão baseada nos pressupostos gerencialistas criam um cenário caótico para o trabalhador, que após ver os colegas sendo demitidos, sobreviventes têm de se adaptar a uma nova organização do trabalho com novos desafios. O que resultou em impactos na convivência social, nas transformações da organização do trabalho, gerando sentimentos e sintomas de adoecimento mental e transformando hábitos de consumo do sobrevivente.
BIANCHINI, C.. Por que as portas fecham?: do capital às demissões em massa. 2017. 162 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.FRONE, M. R.; BLAIS, Ann-Renee. Organizational downsizing, work conditions, and employee outcomes: identifying targets for workplace intervention among survivors. International journal of environmental research and public health, v. 17, n. 3, p. 719, 2020
GAULEJAC, V. de. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. Aparecida/SP: Ideias & Letras, 2007.