O opt-out, como tema de pesquisa, busca contribuir com a apresentação de dados que possam oferecer uma melhor compreensão acerca das justificativas pelas quais algumas mulheres resolvem abrir mão da carreira profissional para serem exclusivamente mães e donas de casa. Entende-se que o desenvolvimento de análises e de discussões sobre este assunto, faz emergir um olhar mais atento sobre as questões ambientais e emocionais que estão por trás desta renúncia (especialmente das mulheres que são mães), bem como, sobre os impactos psicológicos que esta decisão pode lhes causar.
Não foi localizado em nenhum estudo empírico nacional ou estrangeiro acerca do opt-out com foco nas mulheres de baixa renda. Visando preencher este gap, foi elaborado para esta pesquisa o seguinte problema de pesquisa: quais as justificativas atribuídas ao opt-out por mulheres de baixa renda? O objetivo geral foi o de investigar se as justificativas para o fenômeno em pauta identificadas na literatura (oriundas das falas de mulheres executivas) estão presentes nas mulheres de baixa renda.
O referencial teórico foi constituído por abordagens que apresentam justificativas para o opt-out decorrentes de estudos empíricos realizados com mulheres executivas embasadas: na discriminação sexual; na necessidade das mulheres de conciliar papéis no trabalho com o cuidado dos filhos/casa; no sentimento de culpa; bem como na frustração apresentada na literatura como consequência da vivência deste fenômeno (BELKIN, 2003; OLIVEIRA; CERIBELI; SILVA, 2017; FRANCO, 2018; BIESE; CHOROSZEWICZ, 2019; REIS et al, 2020).
Foi realizada uma pesquisa sob o método qualitativo com vinte mulheres residentes em São Paulo que possuem uma renda salarial entre 1 e 2 salários-mínimos. A fim de investigar as justificativas destas mulheres para o opt-out, foi elaborado um roteiro semiestruturado com perguntas centrais decorrentes de estudos com mulheres executivas, estes apontam 4 grandes razões para este fenômeno: a discriminação sofrida por ser mulher, a discriminação por ser mãe; a necessidade de conciliação dos papéis no trabalho com o cuidado dos filhos e da casa e o sentimento de culpa por não cuidar muito dos filhos
Diante dos dados obtidos percebeu-se nesta pesquisa que apenas parte das justificativas apresentadas na literatura para o fenômeno do opt-out vivido por mulheres executivas foram assumidas mulheres de baixa renda. A baseada na discriminação sexual não foi relevante a maioria das entrevistadas. Quanto à justificativa baseada na discriminação sofrida no trabalho por serem mães e a baseada no sentimento de culpa foram citadas como presentes no dia a dia, mas não o suficiente para decidirem renunciar ao trabalho e ao desenvolvimento profissional.
Por conclusão, foi possível verificar na pesquisa que nem todas as justificativas para o opt-out decorrentes das mulheres executivas foram relevantes para as mulheres de baixa renda. Considerando os resultados gerais obtidos, percebe-se que as justificativas apresentadas por estas, apesar de revelarem algumas contradições e conflitos emocionais, são embasadas por um sentido atribuído ao trabalho muito consistente, relacionado ao empoderamento e à busca da construção de uma identidade mais autônoma.
BELKIN, L. A Revolução Opt-Out. The New York Times, 2003; REIS, J.S; MOTA-SANTOS, C.M; TEIXEIRA, M.B.M. “JOGUEI A TOALHA!”: a realidade de executivas que decidiram retornar ao lar. Uma discussão sobre o fenômeno opt-out. Revista de Ciências da Administração, v. 22, n. 56, p. 8-26, 2020.; FRANCO, S. A. Mulheres que abandonam a carreira profissional: uma análise da ocorrência do fenômeno opt-out entre brasileiras. Revista Sociedade e Estado, v. 34, n. 3, 2018.