Resumo

As transformações na economia global incentivaram o movimento de expansão da atuação das firmas brasileiras, mas sua internacionalização em sentido geral é fenômeno relativamente recente. Por sua vez, as dimensões do mercado de trabalho e relações de trabalho em suas estratégias e na configuração dos modelos de gestão de pessoas (HRM) praticados no Brasil e na América Latina também passam por transformações. Frente a isso, persiste uma lacuna de conhecimento ainda a ser explorada quanto a atuação das áreas de HRM dessas firmas no subcontinente latino-americano, sendo pertinente seu estudo.

O artigo analisa as diferentes configurações de gestão de pessoas (HRM) em organização brasileira de recente internacionalização e como esta interpreta as dinâmicas do mercado e relações de trabalho em contextos distintos. Busca-se uma interpretação integrada das práticas de HRM sob a perspectiva das relações de trabalho, envolvendo também a seara sindical, no contexto brasileiro e sul americano. Fruto de uma pesquisa mais ampla sobre conteúdos de interseção entre a atuação da HRM, o mercado de trabalho e as relações de trabalho, amplia seu foco para firma internacionalizada.

A dinâmica do mercado de trabalho desempenhou papel significativo nos ganhos sociais experimentados n a América Latina no início do século XXI (Brummund & Rodriguez-Castelan, 2018). A identificação de modo comparado das práticas de HRM em contextos diferenciados favorece a interpretação de evidências que reflitam a estratégia organizacional (Gooderham et al., 2019). A análise da relação entre o sindicato e a HRM são mecanismos que podem implicar em ações implícitas, principalmente em contexto de crises, de modo a beneficiar o desempenho no local de trabalho (Zeitoun & Pamini, 2021).

A pesquisa utilizou-se de análise qualitativa (Miles & Huberman, 2004), envolvendo levantamento documental, bibliográfico (Eisenhardt, 1989) e entrevistas em profundidade (Salmons, 2014) com gestores estratégicos de HRM e dirigentes sindicais, via estudo de caso em organização de origem familiar brasileira de grande porte de recente processo de internacionalização na América do Sul. Aplicou-se análise de conteúdo (Bardin, 2016) aos textos resultantes dos depoimentos obtidos, em etapas de pré-análise, exploração do material e o tratamento dos resultados com as inferências e interpretações).

Os achados indicam distinções nas práticas de HRM da organização estudada nas plantas fabris dependendo do país, não obstante as similaridades destas em um mesmo território. Verificou-se uma HRM em transição para o nível estratégico no caso do Brasil, e ainda subsidiário da noção tradicional nos outros países latino-americanos. O mercado de trabalho é monitorado e as relações de trabalho são adaptadas para cada país de atuação, com suporte jurídico local. Revela-se ainda o enfraquecimento dos sindicatos no contexto da América do Sul.

Algumas dimensões, não excludentes, poderiam explicar a dinâmica da firma internacionalizada: (1) as questões referentes às relações de trabalho e ao mercado de trabalho passaram a ser mais valorizadas pela HRM; (2) o RH e a gestão das relações de trabalho são tratadas como áreas profissionais e de conhecimento separadas, conduzidas por elementos externos à firma; (3) a HRM diante da internacionalização mostrou-se reativa às decisões da cúpula na empresa familiar, não tendo uma ação estratégica; e (4) o estágio da HRM no país sede revela-se mais avançado que nos países de operação estrangeira.

Amorim, W., Carvalho Neto, A. (2021). Human resource management and industrial relations in the Latin American context. In E. Parry, M. J. Morley, & C. Brewster (eds.), The Oxford Handbook of Contextual Approaches to Human Resource Management (pp. 287-306). Oxford, UK: Oxford University Press. Brewster, C. (2007). Comparative HRM: European views and perspectives. International Journal of Human Resource Management, 18(5), 769-787. Gooderham, P., et al. (2019). A framework for comparative institutional research on HRM. The International Journal of Human Resource Management, 30(1), 5-30.