1 - Frederico Leocádio Ferreira UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - bolsista
2 - Juliana Maria Magalhães Christino UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - FACE
Reumo
O consumo musical para fins identitários será o enfoque deste ensaio. A abordagem adotada aqui entende a identidade como algo dinâmico, múltiplo e em constante construção, expressa por uma miriáde de práticas sociais, dentre elas, a do consumo e a posse de significados culturais e simbólicos proveniente deste. Tanto a prática individual quanto coletiva de ser fã envolve práticas rotineiras de adoração, que se desenvolve de acordo com sua força e sincronia perante um pacote de outras práticas que formam o cotidiano do indivíduo, negociadas perante as demais identidades assumidas pelo indivíduo.
Este ensaio busca aprofundar-se a respeito do consumo musical enquanto ferramenta para a formação identitária pessoal e social, por meio de práticas individuais de adoração e por meio de práticas em fandon.
A perspectiva analítica utilizada aqui é proveniente das teorias da prática (SCHATZKI, 2019; WARDE, 2005; SHOVE et al., 2012). Para discutir as práticas de consumo musical e identidade pessoal do fã, este ensaio adotará a ideia da música enquanto uma “tecnologia do self” (DENORA, 2000), usada como dispositivo que permite um processo reflexivo do self em busca de uma narrativa biográfica coesa (GIDDENS, 1991). Por sua vez, a identidade coletiva do fã por meio do fandon será analisada pelo prisma da identidade social, reforçando semelhanças e diferenças intergrupos (TAJFEL; TURNER, 1979).
A metaprática de ser fã compreende o conjunto de práticas que consolidarão a identidade de ser fã, em toda a sua trajetória de desenvolvimento em torno de seu objeto de adoração, junto com outras práticas pertencentes ao seu cotidiano e que darão suporte à essa construção identitária. Ser fã pode ser considerado algo instantâneo, ou pode ser uma construção estável, que necessita de uma dedicação por um longo período de tempo, compreendendo uma série de práticas envolvendo o consumo e seu simbolismo.
Ao longo do desenvolver da identidade do indivíduo, ele irá aderir ou declinar práticas, de acordo com suas negociações diante de outras identidades que o compõem, bem como perante demais práticas que formam o seu cotidiano. O que interessa aqui é a identidade de ser fã, e todas as práticas que formam essa identidade, sua formação, manutenção e consolidação. Considerar esse escopo permitirá entender toda a trajetória que consolida o indivíduo enquanto um fã de um objeto de adoração, ou o que contribuirá para o seu declínio, para além da agência do indivíduo ou da estrutura.
CAVICCHI, D.R. Tramps like us: Music and meaning among Springsteen fans. Brown University, 1998.
DENORA, T. Music in everyday life. Cambridge University Press, 2000.
SCHATZKI, T. R. Social change in a material world. Routledge, 2019
TAJFEL, H.; TURNER, J.C. An integrative theory of intergroup behavior. In: TAJFEL, H., TURNER, J. C., AUSTIN, W. G., & WORCHEL, S. (1979). An integrative theory of intergroup conflict. Organizational identity: A reader, 56(65), 9780203505984-16.
WARDE, A. Consumption and theories of practice. J of cons cult, v.5, n.2, p.131-153, 2005.