Resumo

O consumo musical tem sido parte da cultura humana, usado para regulação emocional, formação identitária e do autoconceito visando atingir a autoconsciência, e estabelecer e manter relações interpessoais (Schäfer, Seldmeier, Städtler, & Huron, 2013; Hollebeck, Maltthouse, & Block, 2016). A música pode funcionar como uma maneira de desenvolver e comunicar quem se é (DeNora, 2000; Hesmondhalgh, 2013), de pertencer a determinado grupo e se diferenciar dos demais (Tajfel & Turner, 1979), além de ser ferramenta de coesão grupal, por meio da formação de autoconceitos sociais (Turner et al. 1987).

Este ensaio irá discutir, principalmente, sobre as funções sociais da música que se manifestam na gestão da identidade pessoal e de identidade de grupo e intergrupal (DeNora, 2000; Giddens, 1991; Tajfel & Turner, 1979; Turner et al., 1987). Os autores deste trabalho buscaram realizar um estado da arte visando entender o que se tem de contribuições no campo, e quais os novos caminhos existentes pelo qual novos pesquisadores poderão se empenhar.

Para a construção do arcabouço teórico que discutirá a identidade pessoal e social mediadas pela música pautou-se em uma busca sistemática nas bases de dados Web of Science e Scopus no período de 1945-2020. Foram discutidos, portanto, a identidade pessoal e a identidade social. A primeira, considerando a música como uma tecnologia do self, um self coeso e pertencente ao passado e, a busca do self por meio da materialidade e na de-materialidade. A segunda, considerando a música e a identidade social intergrupo, bem como a autocategorização social.

As palavras-chaves utilizadas na busca foram: “Music” AND “Identity” AND “self”. Foram aplicados nas duas bases filtros referentes às categorias de pesquisa, focando em estudos dentro da sociologia e administração, o que elimina, por exemplo, estudos sobre a identidade na música, ou produção de música e identidade, ou assuntos relacionados à pedagogia ou a área da saúde. Chegou-se no total de 89 artigos. Ainda, foi elaborada uma agenda de pesquisas futuras, a partir dos resultados discutidos.

Dentro dos estudos sobre o uso da música enquanto um “emblema de identidade”, existe um campo frutífero de pesquisa acerca da influência da música nos comportamentos de crianças, como papel fundamental para criar e fortalecer relações sociais e a identidade social, no consumo de shows, em questões voltadas para gênero, a formação identitária, à raça e a cultura. Um outro caminho frutífero é se estudar as práticas e dinâmicas de consumo musical dentro do ambiente familiar, bem como abordar os efeitos transculturais da música na vida das pessoas.

Belk, R. W. (1988). Possessions and the extended self. Journal of consumer research, 15(2), 139-168. DeNora, T. (2000). Music in everyday life. Cambridge university press. Hesmondhalgh, D. (2013). Why music matters. John Wiley & Sons. Tajfel, H.; Turner, J.C. (1979). An integrative theory of intergroup behavior. In: Tajfel, H., Turner, J. C., Austin, W. G., & Worchel, S. (1979). An integrative theory of intergroup conflict. Organizational identity: A reader, 56(65), 9780203505984-16.