Resumo

Título do Artigo

O Empreendedorismo Feminino no Cenário de Recuperação Econômica Pós-Pandemia: explorando a subjetivação da mulher no discurso do governo
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Palavras Chave

Empreendedorismo Feminino
Neoliberalismo
Governo

Área

Gestão de Pessoas

Tema

As faces da Diversidade

Autores

Nome
1 - PRISCILLA LOPES BERTOLINO
UNIVERSIDADE POSITIVO (UP) - CURITIBA
2 - Adriana Vinholi Rampazo
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) - Londrina

Reumo

A crise sanitária e econômica ocasionada pela pandemia de covid-19 causou impactos substancias sobre os empregos no Brasil (BRANCHER; MAGACHO; LEÃO, 2020; FERREIRA JUNIOR; SANTA RITA, 2020), com destaque para a intensificação da desigualdade de gênero na força de trabalho (TONHATI, MACÊDO, 2021; LEMOS; BARBOSA; MONZATO, 2020; BOSCHETTI; BEHRING, 2021). A discussão sobre o papel do Estado nessa dinâmica faz-se indispensável, uma vez que as políticas públicas para esse fim almejam uma intervenção cultural que se sustenta a partir do discurso sobre o valor do empreendedorismo como verdade.
Este estudo busca respostas para a seguinte questão de pesquisa: De que modo o discurso do governo promove a subjetivação da mulher na proposição de uma política pública de estímulo ao empreendedorismo? Por meio da perspectiva dialético-relacional de análise do discurso desenvolvida por Norman Fairclough (2001), adotamos como objetivo compreender esse processo de construção de um ideal de mulher empreendedora como produto da articulação de discursos fundadores de verdade no exercício do poder.
A noção de empreendedorismo feminino se apoia em um discurso que visa maximizar a utilidade da população e aumentar sua empregabilidade e produtividade, apregoando um estímulo à competição e ao individualismo, além de outros valores mercantis (DARDOT; LAVAL, 2016). O discurso neoliberal caminha para romper com todas as políticas sociais que não passam pela relação mercantil (TAVARES, 2018), de modo que o empreendedorismo, ao surgir enquanto solução emergente (SILVA; BASSANI, 2007), concretiza a conformação dos sujeitos a essa racionalidade.
Este estudo, de natureza qualitativa e caracterizado como estudo de caso, se apoiou no arcabouço teórico e metodológico da Análise Crítica do Discurso (ACD) especialmente na abordagem dialético-relacional desenvolvida por Fairclough (2001). Nesse sentido, buscamos compreender os discursos fundadores de verdade que operam sob a subjetividade da mulher no contexto da racionalidade neoliberal. A política pública selecionada para a análise foi a Estratégia Nacional de Empreendedorismo Feminino, lançada em março de 2022 pelo Governo Federal.
Por meio da exploração das ligações entre os textos e as práticas discursivas foram reveladas relações de poder e hegemonias produzidas e reproduzidas no discurso do governo. Nos excertos analisados observou-se que há um destaque para o movimento de difusão de um ideal centrado no poder feminino como motor para as dinâmicas sociais e econômicas, com holofotes voltados para atributos que essencializam esse “potencial” e que são orquestrados para operar sobre o funcionamento interno dos sujeitos como capital humano.
As estratégias discursivas que foram adotadas pelos membros do governo na proposição da política buscaram promover a docilização dos corpos femininos à racionalidade neoliberal, na medida em que estabelecem a ilusão de que as pressões sociais que a categoria exerce estão sendo atendidas e que o sucesso da mulher depende do quão bem ocorre a gestão de sua vida enquanto empresária de si. Essas mensagens, revestidas de um tom de empoderamento feminino, nada fazem além de validar ideais econômicos que convém à economia do capitalismo.
BROWN, W. Cidadania Sacrificial - Neoliberalismo, capital humano e políticas de austeridade - Tradução Juliane Bianchi Leão. Pequena Biblioteca de Ensaios. Rio de Janeiro: Zazie Edições, 2018. DARDOT, P; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Bomtempo, 2016. FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasilia: UnB, 2001. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. In: MACHADO, R. 20 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. ______. Nascimento da biopolítica: Curso no Collège de France, 1978-1979. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.