Dimensões e Contextos do Turismo e da Hospitalidade
Autores
Nome
1 - Ruan Tavares Ribeiro UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI (UAM) - Vila Olímpica
2 - Eriberto do Nascimento Sousa UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - EACH
3 - Mônica de Nazaré Ferreira de Araújo UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA) - Departamento de Turismo e Hotelaria
4 - EDEGAR LUIS TOMAZZONI UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - EACH
5 - Carlos Alberto Alves UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI (UAM) - VILA OLIMPIA
Reumo
Agentes sociais do turismo tendem a olhar para unidades de conservação (UC) como espaços paradisíacos em razão da exuberância da natureza. Uma das consequências desse olhar hegemônico é a invisibilização de povos tradicionais que nasceram, se criaram e vivem até hoje nas terras que, em algum momento, passaram a ser classificadas como UC restritivas e sem consulta a esses sujeitos. A invisibilidade é resultado da história oficial do Brasil e das próprias áreas protegidas que não contempla esses povos.
O presente artigo parte do seguinte problema: qual é a visibilidade de comunidades tradicionais e seus empreendedores com negócios turísticos nos conteúdos promocionais do ICMBIO? Desse modo, objetiva-se analisar a visibilidade das comunidades tradicionais anfitriãs no turismo do PNLM no Guia do Visitante do ICMBIO. Busca-se contribuir com os estudos sobre iniciativas de base comunitária em parques nacionais desde o ponto de vista da hospitalidade.
Lança-se mão de aportes teóricos sobre hospitalidade (MORRISON, 2002), hospitabilidade (LASHLEY, 2015) e turismo em comunidades tradicionais (FERREIRA; OLIVEIRA, 2019) com base nesses e em outros autores. Estudos do turismo em comunidades tradicionais de unidades de conservação, desde uma ótica da hospitalidade, devem entender o anfitrião a partir de suas tradições, relacionamento, expectativas, necessidades, desejos e soluções (WADA, 2003).
Lançou-se mão de uma análise qualitativa de textos bibliográfico e documental com análise de conteúdo, partindo das categorias de “presença” e “ausência” do que não foi registrado verbal ou visualmente (ORLANDI, 2007). Essas categorias de análise são baseadas nos pressupostos do "silêncio", segundo Orlandi (2007), que metaforicamente aqui se amplia para a invisibilidade. Esse referencial metodológico alerta para os "modos de apagar sentidos, de silenciar e de produzir o não-sentido onde ele mostra algo que é ameaça".
O destaque do Guia do Visitante está na paisagem natural do PNLM, corroborando a reprodução discursiva do paraíso homogeneizado e estereotipado. Na ausência de representações visuais das comunidades tradicionais no PNLM, os anfitriões são invisibilizados. Com efeito, o sentido da “hospitalidade como uma forma diferenciada de troca humana” (MORRISON, 2002, p. 167) e o desejo do anfitrião de atender às necessidades do outro, de entretê-lo, de ajudá-lo em situação de vulnerabilidade, de fazê-lo companhia (LASHLEY, 2015) podem se perder entre as milhares de outras palavras no website.
Constatou-se que, apesar de alguns esforços do ICMBIO em incluir os negócios de base comunitária no turismo do PNLM, ainda são ações incipientes com poucas representações verbais e nenhuma visual. O conteúdo principal para visitantes refere-se à preservação do ecossistema local e à experiência turística. A intenção deste trabalho não é afirmar nem sugerir que a invisibilidade desses empreendedores comunitários no conteúdo promocional do ICMBIO é algo intencional, mas encontram-se evidências que podem ajudar o instituto a ressignificar os discursos sobre o PARNA.
MORRISON,A.Hospitality research: a pause for reflection.International Journal of Tourism Research,v.4,p.161-169,2002.FERREIRA,H.C.H.;OLIVEIRA,M.A.S.A.Memória, identidade e gastronomia: turismo como alternativa de desenvolvimento local para “populações tradicionais” em unidades de conservação.RITUR,v.9,p.170-190,2019.LASHLEY,C.Hospitality and hospitableness.Research in Hospitality Management,v.5,n.1,p.1-7,2015.WADA,E.K.Reflexões de uma aprendiz da hospitalidade. In:DENKER,A.F.M.;BUENO,M.S.(Org.). Hospitalidade: cenários e oportunidades.São Paulo:Pioneira Thompson Learning,2003,p.61