Resumo

O futebol faz parte da cultura brasileira, sendo, segundo pesquisa do IBOPE Inteligência (2012), a maior paixão de 77% da população. Haas et al. (2004) afirmam que uma das características do modelo de negócios futebolístico que o diferencia dos demais modelos “tradicionais” é a maior relevância da eficácia (o resultado esportivo em si) em detrimento da eficiência (otimização no uso dos recursos). Thanasas e Smaraidos (2017) afirmam que o ambiente econômico negativo em que os clubes estão inseridos, conforme apontado anteriormente, é apropriado para a ocorrência de gerenciamento de resultados.

Assim, a pesquisa procurou responder a seguinte questão: os clubes brasileiros praticam o gerenciamento de resultados através da suavização de resultados e tais práticas estão relacionadas à participação em competições internacionais? Este estudo objetiva, portanto, explorar os indícios de existência, ou não, de gerenciamento de resultados nas demonstrações financeiras apresentadas pelos clubes brasileiros de futebol, de maneira a despertar o interesse por tal área de pesquisa e aprofundar os estudos existentes que enxergam o futebol como mais que um esporte, mas um modelo de negócio e gestão.

Um dos primeiros artigos a abordar a temática do gerenciamento de resultados foi o de Dimitropoulos (2011), no qual o autor utilizou-se de uma amostra de demonstrações financeiras de 67 clubes da União Europeia publicadas durante os períodos de 2006 a 2009, com o intuito de analisar o impacto da governança corporativa sobre os números publicados pelos times de futebol. A evidência encontrada indica que a governança corporativa mitiga práticas agressivas de gerenciamento de resultados pela administração.

Foram analisadas 125 observações, distribuídas entre 25 clubes das séries A e B do campeonato Brasileiro e suas informações financeiras ao longo de 5 anos (2011-2019). A suavização de resultados foi mensurada por meio do coeficiente de Eckel.

Em linha com as conclusões da análise formalizadas acerca da relação dos índices de liquidez e endividamento com os resultados do coeficiente de Eckel encontrados, não foram identificados através da correlação de Spearman indicativos de correlação entre os níveis de endividamento e liquidez com a suavização de fluxos de caixa operacionais e, até mesmo, com o próprio coeficiente de Eckel. Esses resultados corroboram com o de Junior e Holanda (2021) de que não há indicativos significativamente estatísticos de que a mesma ocorre através da suavização dos lucros.

Observou-se que os clubes brasileiros apresentam altíssima variabilidade no lucro obtido no decorrer dos anos, assim como um alto número de times com passivo descoberto e até mesmo patrimônio líquido negativo. Nesse cenário, identificou-se a ausência de indicativos de gerenciamento de resultados por suavização. Os resultados possivelmente se relacionam ao cenário financeiro encontrado nos clubes, uma vez que com tantas flutuações recorrentes, a administração teria maior dificuldade em suavizar os resultados auferidos, ou teria de o fazer através de outras práticas.

JUNIOR, R. A. B.; HOLANDA, A. P. Suavização de resultados: estudo em clubes de futebol brasileiros. RAGC, v. 9, n. 42, 2021. DIMITROPOULOS, Panagiotis. Corporate governance and earnings management in the European football industry. European Sport Management Quarterly, v. 11, n. 5, p. 495-523, dez. 2011.