TRANSIÇÃO DO PAPEL DE PROFESSOR A PROFESSOR-GESTOR: um estudo com coordenadores de cursos de pós-graduação de uma Instituição Federal de Ensino Superior.
1 - Cinthia Moura Frade UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - João Pessoa
2 - Mariana Ferreira Pessoa UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - Campus I
3 - Lucas Andrade de Morais UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE (UFCG) - PPGA/UFCG
Reumo
O interesse pela ocupação de funções gerenciais no ensino superior é baixo, tendo em vista a orientação dos docentes, a qual está voltada para o ensino, a pesquisa e a extensão (CASTRO; TOMÀS, 2011). Em específico na pós-graduação, Nascimento (2010) destaca que a pressão para que os professores publiquem em periódicos, tem contribuído para o desenvolvimento de elevado nível de estresse, tendo como possível consequência a redução de dedicação às atividades menos ou não pontuadas de acordo com os critérios estabelecidos pela CAPES.
Diante da complexidade das atividades de natureza gerencial e da importância do preparo e da capacitação dos profissionais para alcançarem desempenhos satisfatórios, surgiu o seguinte problema de pesquisa “Como se deu a transição do papel de professor a professor-gestor de coordenadores de cursos da pós-graduação stricto sensu de uma Instituição Federal de Ensino Superior? ”. Para tanto, o objetivo do estudo foi compreender o processo de transição do papel de professor a professor-gestor de coordenadores de cursos que atuam no contexto da pós-graduação.
Na universidade, é notório o aspecto da temporariedade da atividade gerencial, nesse sentido, o docente, no decorrer de sua carreira, está exposto a assumir funções como de coordenação de curso, chefia de departamento, pró-reitoria ou reitoria (SILVA; CUNHA, 2012). Contudo, a transição do papel de professor a professor-gestor pode apresentar limitações, sobretudo, quando relacionada à capacitação, pois Campos (2007) alerta que, na maioria das vezes, não é ofertado um treinamento formal, o que pode resultar em uma gestão balizada no método da tentativa e do erro.
A pesquisa é caracterizada como qualitativa, de campo e de cunho exploratório. Foi utilizado como método de pesquisa a história oral temática, tendo como sujeitos de pesquisa 15 (quinze) coordenadores de programas de pós-graduação de uma Universidade Federal de Ensino Superior. Em virtude da escolha pelo método da história oral, o instrumento de coleta de dados utilizado foi um roteiro de entrevista narrativa e, para a realização das análises, levou-se em consideração os desdobramentos analíticos propostos por Alves e Blikstein (2006) sobre narratologia.
A maioria das narrativas dos professores-gestores chamam a atenção, à medida que demonstraram a falta de interesse por cargos de gestão, revelando, assim, a coordenação de curso como uma função que não é desejada, uma vez que, na maioria dos casos, os professores assumem essas funções por indisponibilidade de outras pessoas e participam de um sistema de “rodízio”. Ademais, as narrativas evidenciaram uma limitação na formação dos sujeitos, pois apenas um entrevistado pontuou ter um curso na área de gestão e, ainda, a maioria destacou ter assumido a função sem ter recebido capacitação gerencial.
Muitos discursos evidenciaram falta de identificação com a gestão por parte dos professores-gestores, que pode estar relacionada pelas impressões de uma maioria, ao desabafar sobre o excesso de trabalho em seu exercício. Esse cenário torna-se mais complexo, tendo em vista que alguns professores alegaram não terem tido uma preparação prévia para gestão, uma vez que não passaram por capacitação para atuação gerencial, sendo, em alguns casos, as experiências anteriores desses sujeitos, aspectos que influenciaram na transição do papel de professor a professor-gestor.
CASTRO, D.; TOMÀS, M. Development of Manager-Academics at Institutions of Higher Education in Catalonia. Higher Education Quarterly, London, v. 65, n. 3, p. 290–307, 2011.
NASCIMENTO, L. F. Modelo CAPES de avaliação: quais as consequências para o triênio 2010-2012?. Administração: Ensino e Pesquisa, Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, p. 579-600, out./nov./dez. 2010.
SILVA, F. M. V.; CUNHA, C. J. C. A. A transição de contribuidor individual para líder: a experiência vivida pelo professor universitário. Revista GUAL, v. 5, n. 1, p. 145-171, 2012.