Resumo

A profissão de motorista de ônibus urbano envolve desafios diários. Esses motoristas dirigem veículos muitas vezes mal-conservados, expostos ao calor e a condições ergonômicas inadequadas, num trânsito frequentemente caótico. Além disso, precisam lidar diretamente com passageiros, fazendo com que essa atividade seja estressante e desgastante. Ao mesmo tempo, dirigir pode ser percebida como uma atividade prazerosa e, com seu trabalho, o motorista de ônibus presta um serviço para a comunidade.

Dadas as peculiaridades desta atividade, levanta-se a questão do sentido que motoristas de ônibus atribuem ao seu trabalho. O presente estudo, portanto, teve por objetivo analisar o sentido atribuído ao trabalho por motoristas de ônibus urbano de uma empresa do município do Rio de Janeiro.

O referencial teórico foi estruturado em duas partes. A primeira engloba estudos envolvendo motoristas de ônibus, com foco em pesquisas conduzidas no Brasil. A segunda parte aborda a literatura sobre sentidos do trabalho, com destaque para as diferentes abordagens teóricas sobre o tema. Também foi possível verificar uma carência de pesquisas sobre os sentidos do trabalho com motoristas de ônibus, lacuna que buscamos preencher com o presente estudo.

Foi conduzida uma pesquisa de natureza qualitativa com a participação de 22 motoristas de uma mesma empresa do município do Rio de Janeiro. Na seleção dos sujeitos, foram escolhidos homens e, com o intuito de ampliar a diversidade de perspectivas, buscou-se motoristas mais jovens e que começaram relativamente cedo na profissão e motoristas maduros que se tornaram motoristas após outras experiências de trabalho. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas semiestruturadas e analisados por meio de análise de conteúdo, com apoio do software Atlas.ti.

Na análise dos resultados, aborda-se os motivos pelos quais os entrevistados escolheram essa profissão e a centralidade do trabalho em suas vidas. Os sentidos do trabalho foram analisados a partir do modelo de Morin, Tonelli e Pliopas (2007). Na dimensão individual, o trabalho tem sentido porque lhes permite promover o sustento de suas famílias, além de se sentirem úteis e dignos. Na dimensão organizacional, destaca-se a chance de mostrarem sua utilidade e de serem reconhecidos. Na dimensão social, fazer uma atividade que contribui para a sociedade dá sentido ao seu trabalho.

A realização desse estudo com motoristas de ônibus urbano busca preencher uma lacuna existente na produção acadêmica brasileira sobre sentidos do trabalho. A revisão da literatura apontou uma carência de estudos envolvendo ocupações mais tradicionais, conforme destacado por Spinelli-de-Sá e Lemos (2017). De uma perspectiva aplicada, evidenciou-se a importância de as empresas reverem suas práticas organizacionais, tendo em vista que decisões consideradas exageradas ou injustas geram insatisfação e, em alguns casos, promovem a rotatividade.

BENDASSOLLI, P. F.; GODIN, S. M. G. Significados, sentidos e função psicológica do trabalho: Discutindo essa tríade conceitual e seus desafios metodológicos. Avances en Psicología Latinoamericana, v. 32, n. 1, p. 131–147, 2014. MORIN, E.; TONELLI, M. J.; PLIOPAS, A. L. V. O trabalho e seus sentidos. Psicologia e Sociedade, v. 19, Edição Especial, p. 47–56, 2007. SPINELLI-DE-SÁ, J. G.; LEMOS, A. H. DA C. Sentido do trabalho: Análise da produção científica brasileira. Revista ADM.MADE, v. 21, n. 3, p. 21–39, 2017.