Sentidos do trabalho
Autonomia
Capitão de Polícia Militar
Área
Administração Pública
Tema
Gestão Organizacional: Governança, Planejamento, Recursos Humanos e Capacidades
Autores
Nome
1 - Valdinei Arcanjo da Silva UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - EACH
2 - Milton Morassi do Prado UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - EACH
3 - Andrea Leite Rodrigues UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - EACH USP
Reumo
O trabalho é tema central na vida das pessoas e assume aspecto de meio de sobrevivência e de evolução moral e espiritual do homem (BENDASSOLI, 2010). Imperativo para se encontrar sentido na atividade laboral é a autonomia. O trabalho policial-militar se mostra como campo para pesquisa em diversos campos. Ganha destaque o estudo sobre a autonomia para os Capitães de Polícia Militar, considerados burocratas de nível médio (CAVALCANTE e LOTTA, 2015; LIPSKY, 2019). Assim, o artigo visa contribuir para os estudos sobre sentidos e significados do trabalho e burocracia de médio escalão.
A atividade policial-militar é dinâmica e com muitas atribuições frente às políticas de segurança pública. Nesse contexto, Capitães, como burocratas de médio escalão, exercem importante função na gestão pública. A partir desse posicionamento, pergunta-se: o tipo de autonomia percebida e narrada por esses profissionais é o mesmo encontrado por trás dos discursos que lhes conferem sentidos ao trabalho?
Diante disso, o objetivo do trabalho é estudar qual a percepção do Capitão ou Capitã da Polícia Militar sobre sua autonomia na execução das atividades na área da segurança pública.
O estudo partiu de fundamentos teóricos voltados:
a) aos sentidos do trabalho, o qual depende do contexto, paradigma, fatores socais e culturais (Barrichelo et al, 2016). A abordagem funcionalista os vincula a resultados [Morin e Cherré (1999)]; já a interpretativista [Rosso et al (2010)], define o próprio “eu” e os outros, as lideranças, o meio e a vida espiritual.
b) à autonomia, entendida como liberdade em trabalhar e decidir (RODRIGUES, 2021).
c) à burocracia de médio escalão, para localizar o Capitão/Capitã de polícia militar (CAVALCANTE e LOTTA, 2015; LIPSKY, 2019)
Partiu-se do paradigma interpretativista (BURREL e MORGAN, 2016) e adotou-se o método qualitativo para se verificar o significado que os indivíduos ou grupos (no caso, Capitães) dão a determinado problema social ou humano (CRESWELL, 2010). A coleta dos dados primários ocorreu por meio de entrevistas com 8 capitães da Polícia Militar de São Paulo de forma síncrona (on line). Todas foram gravadas e transcritas. Utilizou-se a análise de texto (BARDIN, 1977) para prosseguir com a análise de discurso e tratamento dos dados (FAIRCLOUGH, 2001).
Na análise textual, verificou-se que a autonomia aparece numa concepção plena para a maioria dos participantes, porém na análise de discurso, emerge com uma concepção mais mitigada ou relativa, tendo em vista as questões políticas, a necessidade em se reportar ao superior hierárquico, pela proximidade com o chefe imediato ou pela natureza administrativa da função.
A narrativa dos Capitães participantes da pesquisa permitiu verificar que a percepção sobre autonomia ganha contornos diferentes a depender do tipo de análise. Na análise textual, sobressai um tipo de autonomia absoluta, porém, não se sustenta quando da análise de discurso, em que autonomia é mitigada por fatores políticos, de hierarquia e da natureza da função. A estrutura militar presente na Polícia Militar do Estado de São Paulo não impõe barreiras à autonomia. O setor operacional propicia maior grau de autonomia em relação ao setor administrativo.
BARRICHELLO, A., MORIN E. M., RODRIGUES A. L., Os sentidos do trabalho para profissionais de enfermagem: um estudo multimétodos. RAE, 2016.
BENDASSOLI, P. F.. Psicologia e trabalho. Apropriações e significados. Coleções Deb. em Adm. 2010.
CANHOLI JUNIOR, C. ; LIMA, T. C. B. ; LIMA, M. A. M. ; VIANA, L. M. M. . Sentidos do Trabalho para Trabalhadores do Saneamento Básico. In: XL EnANPAD, 2016.
RODRIGUES, A. L. Ser Servidor: estigma e vocação em perspectiva. UFPB, 2021.
ROSSO, B. D et al (2010). On the meaning of work: A theoretical integration and review. ROB, 30, 91-127