Vivências subjetivas
Relações Afetivas
Processos de Sucessão.
Área
Estudos Organizacionais
Tema
Comportamento Organizacional
Autores
Nome
1 - Cláudia Helena Oliveira de Souto UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - Campus I
2 - Anielson Barbosa da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - Departamento de Administração
3 - Paulo César Zambroni-de-Souza UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - Departamento de Psicologia
Reumo
A sucessão empresarial em empresas familiares é recorrente em várias pesquisas e estudos, e se discute recorrentemente a importância do planejamento sucessório para auxiliar a empresa a sobreviver por várias gerações. O que há na empresa familiar que a faz tão peculiar e por que a utilização de modelos ou regras de sucessão, muitas vezes, não são suficientes para garantir o sucesso de um processo sucessório? A maioria dos estudos que são realizados sobre sucessão empresarial apresenta uma dimensão um tanto esquecida ou pouco explorada, que envolve a vivência subjetiva do sucedido ou sucessor.
Este estudo pretende elucidar a seguinte questão de pesquisa: como as vivências subjetivas das relações afetivas entre o sucedido e o sucessor afetam o processo sucessório em empresas familiares? O objetivo da pesquisa é compreender as vivências subjetivas das relações afetivas entre sucesso e sucedido no processo sucessório em empresas familiares.
O desejo que o empresário tem de fazer a sua obra crescer e se perpetuar através das gerações reveste de sentido a sua mobilização subjetiva, a qual não deixa de ser frágil, pois depende da dinâmica de contribuição e retribuição (Dejours, 2012b, p. 104), tanto dos seus pares, dos seus funcionários, quanto da sua família. Neste estudo, a vivência subjetiva das relações afetivas entre sucedido e sucessor envolvem as relações entre o amor e o trabalho, as escolhas que levam a renúncia para atuar de forma colaborativa, como também o reconhecimento do sucessor pelo sucedido.
A pesquisa é de natureza qualitativa e como método a história oral temática. O estudo foi realizado em cinco pequenas empresas familiares localizadas em uma capital do Nordeste brasileiro. Participaram dez empresários (cinco pares de sucedidos e sucessores). A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas. Para analisar o material revelado nesta investigação, escolheu-se a Análise Sociológica do Discurso (ASD), um método de análise-interpretação dos discursos de tradição espanhola, e optou-se pela utilização da sistematização proposta por Coelho (2012).
A análise dos discursos possibilitou a compreensão da vivência subjetiva das relações afetivas a partir de três categorias analíticas de significados: amor e renúncia, frustração e mágoa, conflitos de gerações e perdão. Os resultados revelam a complexidade das relações entre sucedidos e sucessores e caracterizam a contribuição da psicodinâmica do trabalho como lente teórica para entender os processos de sucessão nas empresas familiares. A vivência subjetiva das relações afetivas identificadas no estudo ratifica a solidariedade psíquica entre os espaços sociais do trabalho e extratrabalho.
As vivências subjetivas estão intrínsecas nas relações entre sucedidos e sucessores, que levam para as suas empresas as suas vivências familiares, ao mesmo tempo que trazem para as suas famílias as suas vivências organizacionais. Desconsiderar a vivência subjetiva na sucessão é um grande engano, pois o trabalho tem grandes reflexos nas condutas e atitudes na esfera privada. Já os conflitos graves e os sofrimentos que surgem no espaço privado têm efeitos dinâmicos danosos na capacidade de trabalho e a aptidão para participar das relações a serem mantidas com as outras pessoas no trabalho.
Davel, E., & Machado H.V (2001). A dinâmica entre liderança e identificação: sobre a influência consentida nas organizações contemporâneas. RAC, v. 5, n. 3, Set/Dez. 2001: 107-126.
Dejours, C. (2011). Entre sofrimento e reapropriação: o sentido do trabalho. In S. Lancman, &. L. I. Sznelwar (Orgs.). Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho (p. 433-448). Fiocruz; Paralelo 15.
Kets de Vries, M. F. R., & Miller, D. (2015). Relações de transferência na empresa: confusões e atritos no processo decisório. In O. F. L. Tôrres (Org.). O indivíduo na organização, v. 2. SP: Atlas.