Resumo

No entendimento que existe uma dominação masculina na sociedade, o feminismo se desdobra em diversas vertentes e o feminismo liberal, relacionado à igualdade no mercado de trabalho, acaba sendo mais propagado. Segundo a visão crítica de Nancy Fraser, as pautas feministas acabaram sendo apropriadas pelo neoliberalismo, que proporciona a um grupo específico de mulheres privilegiadas a ascensão, enquanto as condições de trabalho levam à crise do cuidado (CALÁS; SMIRCICH, 1998; CERCHIARO, AYROSA E ZOUAIN, 2009; FRASER, 2009; ARRUZZA, BHATTACHARYA E FRASER, 2019).

Diante do exposto, é possível notar que na literatura há um campo que revela muito sobre as questões que tocam gênero, mas usando a perspectiva crítica de Nancy Fraser, percebemos que a discussão precisa ir além do gênero e olhar a questão do feminismo. Nessa perspectiva, o trabalho procura trazer o feminismo na visão de Nancy Fraser e como o feminismo aparece no arquétipo das mulheres na compreensão das carreiras.

O movimento feminista entende que existe uma dominação masculina na sociedade e se desdobra em diferentes abordagens. Uma delas é o feminismo liberal mais funcionalista, com ideias de equidade de oportunidades, que se reflete na inserção de mulheres nas organizações e reconhecimento das barreiras para sua ascensão (CALÁS; SMIRCICH, 1998; CERCHIARO, AYROSA E ZOUAIN, 2009). Porém, a visão crítica aponta para a apropriação do feminismo pelo neoliberalismo, a ascensão a uma minoria privilegiada, e o surgimento da crise do cuidado (FRASER, 2009; ARRUZZA, BHATTACHARYA E FRASER, 2019).

O trabalho tem abordagem qualitativa buscando compreender um fenômeno a partir do ponto de vista de mulheres estudantes da área de administração (DENZIN E LINCOLN, 2018). A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas extraindo as visões das entrevistadas escolhidas por conveniência (CRESWELL, 2007; BONI E QUARESMA, 2005). No total foram realizadas 8 entrevistas e foi utilizada análise de discurso na perspectiva de Fairclough (2001), entendendo que o discurso é moldado pela estrutura social, mas também é uma prática que contribui para formação dessa estrutura.

Foi notada a presença do feminismo liberal na percepção do feminismo e no entendimento da trajetória feminina. Foram apontados diversos obstáculos nas trajetórias femininas, tais como maternidade e trabalhos reprodutivos que se relacionam com a crise do cuidado. Apesar de apontarem avanços das pautas feministas nas organizações, as entrevistadas também questionaram o real comprometimento organizacional para além das demandas sociais e dos fins econômicos. Além disso, houve reconhecimento de uma estrutura patriarcal na sociedade e um posicionamento em busca de transformações.

Conforme apontado pela crítica, os discursos carregam características do feminismo liberal propagado e apropriado pelo neoliberalismo, entretanto as mulheres também reivindicam transformações sociais mais profundas do patriarcalismo que está na raiz de diversos obstáculos, o que demanda um feminismo mais socialista. Como limitações do estudo, pode-se colocar o número e perfil das entrevistadas, ficando como sugestão para pesquisas futuras trabalhar com o perfil de mulheres casadas, mães, bem como discutir as interseccionalidades, como raça e perfil socioeconômico.

ARRUZZA, C.; BHATTACHARYA, T.; FRASER, N. Feminismo para os 99%: um manifesto. 1. ed. São Paulo, Boitempo, 2019. CALÁS, M. B.; SMIRCICH, L. Do ponto de vista da mulher: abordagens feministas em estudos organizacionais. In: CLEGG, S.; HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1998. v.1, pg 275- 329. FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Editora Universidade de Brasília, 2001. FRASER, N. O feminismo, o capitalismo e a astúcia da história. Mediações, Londrina, v. 14, n.2, 2009.