Resumo

Em tempos de pandemia da COVID-19, atrasos desnecessários de atividades acadêmicas importantes originários de algum comportamento procrastinador são esperados, visto que os discentes tinham que dividir o tempo e espaço com outras atividades e afazeres. No entanto, utilizando mecanismos de autorregulação e de autocontrole, é possível buscar aliados da aprendizagem para minimizar os fatores de distração. A adoção dessas medidas poderá otimizar a aprendizagem autorregulada e serem atenuados os efeitos da procrastinação acadêmica.

Considerando a lacuna de estudos sobre a procrastinação acadêmica provocada pelas distrações em contexto de isolamento social devido à pandemia da COVID-19, esta pesquisa busca responder a seguinte problemática: Como os discentes de mestrado e doutorado percebem os fatores de distração e de mitigação da distração em relação ao seu comportamento procrastinador? O presente estudo tem como objetivo compreender os fatores de distração da atenção que influenciam o comportamento procrastinador no âmbito acadêmico de pós-graduação.

O fenômeno da procrastinação tem provocado diversos debates, devido à sua influência contraproducente na vida das pessoas. Indivíduos apresentam uma menor ou maior incidência procrastinadora relacionado ao tempo demandado em atividades de lazer. As fontes de distração, junto aos indivíduos, surgem das mais variadas formas. Estudantes com maior engajamento e alta perseverança acadêmica enfrentarão com maior determinação os desafios impostos pelas atividades, podendo regular de forma positiva sua conduta acadêmica, atenuando um eventual comportamento de procrastinação acadêmica.

Esta é uma pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica. Foram entrevistados 24 discentes matriculados em um programa de pós-graduação de uma universidade federal brasileira utilizando plataformas de videoconferência e empregado um protocolo ético na pesquisa. Com base em revisão da literatura, elaborou-se um framework teórico que permitiu a comparação com as categorias de análise prévias e os dados coletados nas entrevistas semiestruturadas. Por lógica indutiva, novas categorias foram identificadas. O software utilizado para apoiar a análise foi o Atlas.ti versão 9.

Os dois temas principais Fatores de distração acadêmica (FDA) e a Mitigação da distração acadêmica (MDA) geraram juntos 583 citações e a identificação de 61 códigos ou subcódigos, com o primeiro tema obtendo maior quantitativo de citações de trechos codificados (449 citações).

Os achados mostraram que os indivíduos podem apresentar fatores de distração e hábitos de autorregulação para a mitigação dessas distrações. A falta de planejamento e o trabalho externo apresentaram-se como maiores complicadores que acarretam maior procrastinação acadêmica, de modo que os discentes se sentem mais facilmente atraídos para as distrações. Já o bom gerenciamento do tempo e o uso de ferramentas de auxílio à gestão da aprendizagem apresentaram-se como bons aliados da autorregulação na mitigação das distrações que aumentam o comportamento de procrastinação acadêmica.

Grunschel, C. et al. (2018). “I’ll stop procrastinating now!” Fostering specific processes of self-regulated learning to reduce academic procrastination. Journal of Prevention & Intervention in the Community, 46(2), 143–157. Pestana, J. V. et al. (2020). Leisure and Procrastination, a Quest for Autonomy in Free Time Investments: Task Avoidance or Accomplishment? Frontiers in Psychology, 10. Svartdal, F. et al. (2020). How Study Environments Foster Academic Procrastination: Overview and Recommendations. Frontiers in Psychology, 11.