Epistemologias e Ontologias em Estudos Organizacionais
Autores
Nome
1 - Marcos Gilberto Dos-Santos INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA (IFBA) - Campus Salvador
Reumo
O estudo da epistemologia em estudos organizacionais tem sua trajetória marcada pela proposta de sucessão dos paradigmas (KUHN, 1970) e da disputa das correntes paradigmáticas presentes em Burrel e Morgan (1979). O Círculo das matrizes epistêmicas (Paes de Paula, 2016) se oferece como uma alternativa aplicável ao campo e propõe uma convivência entre elementos de diferentes matrizes epistêmicas. Nesse ensaio, argumento que pesquisas quantitativas podem ser melhor compreendidas por essa visão integradora.
As pesquisas quantitativas podem ser classificadas como positivistas? O objetivo desse ensaio é problematizar a percepção de que as pesquisas com abordagem quantitativa podem ser classificadas como positivistas sem uma análise mais aprofundada se elas de fato cumprem os critérios que caracterizem esse tipo de pesquisa.
Paradigmas se sucedem nas ciências a partir de uma maior capacidade de explicação da realidade e da aceitação dos pesquisadores (KUHN, 1970). Burrel e Morgan (1979) apresentam a proposta dos paradigmas aplicada às ciências sociais numa matriz com quatro possibilidades. As pesquisas positivistas trazem as características de distanciamento, objetivismo, neutralidade, previsibilidade, reducionismo e generalização (DEMO,2010). O Círculo das matrizes epistêmicas de Paes de Paula (2016) permite uma melhor compreensão da produção de conhecimento nos estudos organizacionais.
Uso de números para representar a realidade ou fenômenos organizacionais não consegue, por si só, garantir que os critérios associados a postura positivista de pesquisa estejam presentes em uma abordagem quantitativa. Uso de escalas atitudinais tem envolvimento do pesquisador na sua construção e uma resposta subjetiva dos participantes. Também predição e causalidade na maior parte das pesquisas quantitativas não se verificam, bem como o reducionismo não se aplica como característica exclusiva do positivismo.
As classificações epistemológicas herdadas da visão de sucessão paradigmática, bem como as características excludentes das correntes tradicionais, não dão conta de entender a análise da produção de conhecimento na área de estudos organizacionais. Esse ensaio buscou reforçar essa tese aos discutir como a abordagem quantitativa, tradicionalmente classificada como pesquisa positivista, nem sempre atende aos critérios previstos. Assim, reforça-se a necessidade de uma análise com elementos integrativos, como o Círculo de matrizes epistêmicas (PAES DE PAULA, 2016).
BURREL, G.; MORGAN, G. Sociological paradigms and organisational analyses. London: Heinemann Educational Books, 1979.
HABERMAS, J. Conhecimento e Interesse. Com um Novo Posfácio. Rio de Janeiro: Zahar,1982.
KUHN, T. The Structure of Scientific Revolutions. 2. Ed. Chicago: University of Chicago Press, 1970.
PAES DE PAULA, A. P. Para Além dos paradigmas nos estudos organizacionais: o círculo das matrizes epistemológicas. Cad. EBAPE.BR, v. 14, n. 1, p. 24-46, 2016.
SERVA, M. Epistemologia da Administração no Brasil: O Estado da Arte. Cadernos EBAPE.BR, v. 15, n. 4, p. 740-750, 2017.