Epistemologias do Sul
Decolonialidade
Gestão Social.
Área
Administração Pública
Tema
Gestão Social e Organizações do Terceiro Setor
Autores
Nome
1 - Gisleine do Carmo UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Departamento de Administração e Economia
2 - Vânia Aparecida Rezende UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI (UFSJ) - Departamento de Ciências Administrativas e Contábeis
3 - Camila de Assis Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Departamento de Administração e Economia
4 - Cristiane Aparecida da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Discente - PPGA
5 - José Roberto Pereira UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Departamernto de Administracao Pública
Reumo
Ao questionar as bases das relações epistêmicas modernas, as Epistemologias do Sul contribuem para a descolonização do saber e integram variadas perspectivas, provenientes de diferentes lugares e disciplinas (SANTOS; MENESES, 2010). E com essa mesma perspectiva, o campo da Gestão Social se desenvolve, seja por meio da articulação dos saberes, acadêmicos ou não acadêmicos, multi e interdisciplinares, construídos com e pelos atores (SCHOMMER; FRANÇA FILHO, 2010). Ambos são contrários ao pensamento administrativo dominante, que provoca desigualdades e contribui para perpetuar o status quo.
As Epistemologias do Sul, assim como a Gestão Social, exercem papel relevante na desconstrução daquilo que é hegemonicamente reconhecido como a base do conhecimento legítimo e compartilham a necessidade de integração daqueles indivíduos que historicamente são subalternizados. Portanto, um problema de pesquisa emerge dessas considerações: Como as Epistemologias do Sul podem contribuir para ampliar a lente teórica que fundamenta a Gestão Social contemporânea? Para isso, apresenta-se como objetivo realizar aproximações teóricas entre o campo da Gestão Social e as Epistemologias do Sul.
A Gestão Social representa “uma alternativa teórica e prática ao pensamento organizacional hegemônico” (CANÇADO; TENÓRIO; PEREIRA, 2011, p. 698). Por meio das esferas públicas, objetiva-se atender ao bem comum da sociedade, a partir de ações mais participativas e dialógicas (TENÓRIO, 1998, 2012). As Epistemologias do Sul representam uma alternativa ao paradigma epistemológico da ciência moderna. Uma alternativa às epistemologias do Norte, o lado colonial, patriarcal e capitalista, que consideram o Norte epistemológico eurocêntrico como a única fonte de conhecimento válido (SANTOS, 2014; 2019).
Do mesmo modo que a Gestão Social busca a emancipação como finalidade, as Epistemologias do Sul apresentam potencial emancipador, ao funcionar como orientação política e epistêmica, que nasce do conhecimento acerca da luta contra o capitalismo/colonialismo/patriarcado (SANTOS, 2018b). A emancipação para a Gestão Social define a capacidade de se livrar da tutela de alguém e pensar por si mesmo (CANÇADO, 2011). Dessa forma, não há como pensar e conceber o conhecimento a partir dos saberes exclusivos do Norte. É preciso considerar também outras perspectivas, como as Epistemologias do Sul propõem.
A Gestão Social anseia por realizações que reforçam o diálogo entre diferentes atores e seus mais variados saberes, sejam eles provenientes da ciência moderna ou do cotidiano das práticas populares. E as Epistemologias do Sul, por meio da ecologia de saberes, ratificam que essa troca é favorável para a ascensão dos novos conhecimentos, que traduzem as histórias de povos até então suprimidos pela colonização. Povos que foram submetidos à dominação social, econômica, cultural, epistemológica, e aprenderam que seus modos de vida, saberes e opiniões são subalternos e insuficientes.
CANÇADO, A. C. Fundamentos teóricos da gestão social. 2011. Tese (Doutorado em Administração) – Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, 2011.
CANÇADO, A. C.; TENÓRIO, F. G.; PEREIRA, J. R. Gestão Social: epistemologia de um paradigma. 2. ed. Curitiba: Editora CRV, 2015.
SANTOS, B. S.; MENESES, M. P. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.
SANTOS, B. S. O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do sul. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. 477 p.
TENÓRIO, F. G. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública, v. 32, n. 5, p. 7-23, 1998.