Resumo

A presente pesquisa alinhou as literaturas de Estratégia como Prática Social (EPS) e Arranjo Produtivo Local (APL) para conduzir um estudo de caso qualitativo sobre as rotinas estratégicas de artesões culturais no Mercado Municipal de Aracaju. Foram feitas entrevistas semiestruturadas com artesãos e vendedores do Mercado, que promoveram um maior entendimento de suas práticas e rotinas organizativas, avançando assim a agenda de estudos dessas teorias no cenário brasileiro, especialmente a de EPS, que carece de maior atenção.

A presente pesquisa se debruçou sobre o seguinte problema de pesquisa: como ocorre o fazer estratégia como prática social para os artesãos culturais do Arranjo Produtivo Local (APL) do Mercado Municipal de Aracaju (MMA)? Com base nele, o objetivo geral deste estudo foi compreender o fazer estratégia como prática social para os artesãos culturais do APL do MMA. Como objetivos específicos, tem-se: identificar e analisar o contexto organizativo do Mercado Municipal de Aracaju; identificar e analisar o organizar do APL dos artesãos do MMA.

Um caminho a percorrer para entender a estratégia como prática social é analisando as práticas e o contexto em que elas estão inseridas (Chia, 2007). Alguns estudos relacionam a estratégia e sua influência nas organizações (Jhonson, Melin & Whittington, 2007). Ao tratar sobre o contexto organizacional, os Arranjos Produtivos Locais (APLs), conforme Manfré e Nardez (2019), são organizações que estão localizadas em uma área geográfica, mantendo vínculos de articulação, de cooperação entre os membros e órgãos públicos. O exemplo de APL abordado neste estudo é o Mercado Municipal de Aracaju.

A presente pesquisa adotou uma metodologia qualitativa para seu desenvolvimento, utilizando o estudo de caso (Yin, 2005) como orientação metodológica. Para a produção dos dados foram realizadas seis entrevistas semiestruturadas (Kvale, 2007) presencialmente com artesãos e vendedores do mercado. Elas foram transcritas e analisadas com base na técnica de análise de conteúdo de Bardin (1977), passando assim por procedimentos de codificação e categorização.

Para a apresentação dos resultados, quatro principais práticas estratégicas emergiram: rotinas do artesão; ferramentas do artesão; parceria entre os artesãos; e turismo e vendas. Foi possível observar que “rotinas do artesão” ocupa uma posição relevante no fazer estratégia como prática. No tocante a “ferramentas do artesão” nem todos os estrategistas culturais optam por utilizar as mesmas ferramentas de vendas. A prática “parceria entre os artesãos” não houve um consenso de reflexão entre os participantes. Por fim, a prática “turismo e vendas” poderia ser melhor explorada pela Prefeitura.

Percebeu-se na pesquisa, que os praticantes artesãos do Mercado lidam com constantes divergências de entendimentos sobre as práticas estratégicas e que essas se desdobram em interesses comuns e divergentes, fazendo dos procedimentos de negociação entre os atores uma constante no Mercado. Se, por um lado, cada praticante está inserido em seu contexto específico, por outro verificamos que uma prática sofre interferência nas demais práticas e que isso pode gerar contradição na compreensão por parte dos artesãos na dinâmica do contexto.

Chia, R. (2007). Post-processual challenges for the emerging strategy-as-practice perspective: discovering strategy in the logic of practice. Human Relations 60(1), 217-242. Johnson, G., Melin, I., Whittington, R. (2007). Strategy as practice: research directions and resources. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. Manfré, E. R. & Nardez, R. (2019). Desenvolvimento local e o arranjo produtivo local – APLs / Local development and the local productive arrangement – APLs. Revista Geografia em atos. 6(13), 96-112.