Resumo

Nos últimos anos houve um significativo crescimento do cooperativismo de crédito no Brasil, principalmente em relação às instituições financeiras tradicionais, como bancos. Só no ano de 2020 a carteira de crédito do Sistema Nacional de Cooperativismo e Crédito cresceu 33,4%, quase 20 pontos acima do Sistema Financeiro Nacional como um todo. Outra característica marcante do segmento é sua ligação com o setor agropecuário, como intermediário de operações de crédito rural, atividade econômica a qual também possui apelo de inclusão financeira.

Diante do ganho de relevância de técnicas de georreferenciamento na academia, e evidências de aspectos geográficos como influenciadores do fenômeno de inclusão financeira, este estudo se propõe a investigar a relação entre cooperativismo de crédito e desenvolvimento econômico no país, por meio da inclusão, sob a luz de aspectos georreferenciais.

O cooperativismo, de forma ampla, por sua vez, contribui efetivamente para o desenvolvimento regional, uma vez que nesse tipo de entidade opta-se por privilegiar a geração de emprego e renda. Em relação à concentração geográfica, as raízes históricas das origens do cooperativismo de crédito no país, modelo Raiffeisen (de origem alemã) e modelo Luzzatti (de origem italiana), ajudam a explicar a relevância regional desse tipo de atividade. Apesar da forte ligação com o agronegócio, há pouca atuação das cooperativas de crédito junto a cadeias produtivas agroindustriais.

A unidade de análise foram os 5.570 municípios brasileiros ao final de 2018, utilizando dados do IBGE e do Banco Central. Os procedimentos empregados foram executados em três etapas. Inicialmente foi realizada uma análise exploratória espacial. Em seguida buscou-se realizar uma análise da autocorrelação espacial, a fim de avaliar a existência e o grau de dependência das observações no espaço. Por fim, buscou-se avaliar o papel das cooperativas de crédito no desenvolvimento econômico local, bem como a dependência espacial deste fenômeno. Foram realizadadas regressões OLS e SAR.

Os resultados apontam a influência da geografia nas variáveis de PIB per capita e PIB do Agronegócio. Para o PIB do agronegócio, a regressão OLS aponta para um efeito negativo e significante da presença de bancos e positivo e significante para a presença de cooperativas de créditos no município. Os modelos SAR indicam um melhor ajuste nos dados do que os modelos OLS, reforçando a dependência geográfica do fenômeno e o efeito positivo da presença de cooperativas de crédito para desenvolvimento econômico do município.

Os resultados deste artigo sugerem que cooperativas de crédito no país, ao serem estudadas sob a luz de aspectos geoespaciais, contribuem para o desenvolvimento econômico, principalmente nas municipalidades ligadas à atividade agropecuária. A simples presença de postos de atendimento associados a cooperativas de crédito, demonstraram influência estatística tanto no PIB per capita, quanto no PIB agropecuário. Comparadas com instituições bancárias, as cooperativas de crédito, promovem mais o desenvolvimento econômico.

Barberia, L. G., Biderman, C., 2010. Local economic development: Theory, evidence, and implications for policy in Brazil. Geoforum, 41(6), 951-962. Getis, A., 2008. A history of the concept of spatial autocorrelation: a geographer’s perspective. Geographical Analysis, 40, 297-309. Medina, G. S., Gosch, M. S., DelGrossi, M. E., 2021. Development pathways for family farmers: Lessons from Brazil on the need for targeted structural reforms as a means to address regional heterogeneity. Geoforum, 118, 14-22