1 - Adriane Vieira UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Escola de Enfermagem
2 - Karla Rona da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Escola de Enfermagem
3 - Selme Silqueira de Mattos UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - ESCOLA DE ENFEMAGEM
4 - Fátima Ferreira Roquete UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Escola de Enfermagem
5 - Meiriele Tavares Araujo UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Escola de Enfermagem
Reumo
A sociedade brasileira ainda mantém as tradicionais relações de poder quando o assunto são homens e mulheres disputando espaço no mercado de trabalho (Vieira et al., 2017). Na carreira médica as mulheres já são maioria entre os grupos com até 34 anos (Scheffer et al., 2020). As instituições educacionais possuem importante papel no desenvolvimento técnico dos residentes e na construção de suas identidades profissionais. Segundo Dubar (2006) é no confronto entre a atribuição das identidades para si mesmo e a identidade que outros nos atribuem que resulta na construção da identidade coletiva.
O processo de construção da identidade para si (autopercepção) é resultante da história de vida individual, enquanto a construção da identidade para o outro (heteropercepção) ocorre através das instituições e dos seus agentes. Estabelecidas as variáveis do estudo apresenta-se o problema de pesquisa: quais são as diferenças entre a auto e heteropercepção profissional de residentes em medicina do gênero masculino e feminino? O objetivo do trabalho foi comparar os atributos que melhor caracterizam a identidade socioprofissional de médicos residentes homens e mulheres.
A identidade profissional se desenvolve com a aquisição de conhecimentos e competências da profissão. Ela tem o poder de construir situações e relacionamentos configurando subjetividades e identidades, que são negociadas constantemente nas interações sociais. A auto e heteropercepção podem incluir atitudes ou juízos de valor e são usadas para dar sentido ao mundo e proteger os valores básicos. Desse modo, as pessoas podem organizar e estruturar as suas percepções em torno de alguns domínios, como gênero e escolhas profissionais (Sutherland & Markauskaite, 2012).
O método de investigação escolhido foi o estudo transversal por meio de levantamento (survey). A amostra somou 327 residentes médicos de 4 hospitais da Grande Belo Horizonte. Os respondentes do gênero masculino da área de engenharia totalizam 41,90% e os do gênero feminino da área da saúde 58,10%. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário com a Escala de Auto e Hereropercepção Profissional (EAHP). Os dados foram analisados por meio da modelagem de equações estruturais com abordagem multigrupos.
Na autopercepção, a dimensão que melhor caracteriza a profissão é Esforço, dado que ela que envolve demandas e cobranças internas e externas frente ao risco de erro. A jornada de trabalho é longa e dificulta em muito a conciliação entre trabalho, vida pessoal e lazer. A heteropercepção informa que os residentes não acreditam que a sociedade reconheça seus esforços. Falta reconhecimento, o que acaba impactando negativamente no sentimento de realização profissional. Existem diferenças significativas entre homens e mulheres, indicando que elas se sentem menos subordinadas e mais realizadas.
Os dois pressupostos desta pesquisa foram refutados, o primeiro era de que a profissão médica gozaria de maior reconhecimento e realização do que outras profissões da saúde, como enfermagem e nutrição. O segundo era que não haveria divergência significativa na valoração dos atributos da escala entre os gêneros. Os dados apontam que falta reconhecimento social da profissão e que predomina um sentimento negativo de realização. O estudo apontou diferenças significativas entre homens e mulheres, indicando que elas se sentem menos subordinadas e mais realizadas do que eles.
Dubar, C. (2006). A crise das identidades. A interpretação de uma mutação. Porto: Afrontamento.
Scheffer, M. et al. (2020). Demografia médica no Brasil 2020. São Paulo: FMUSP/CFM.
Sutherland, L., & Markauskaite, L. (2012). Examining the role of authenticity in supporting the development of professional identity: an example from teacher education. Higher Education, 64(6), 747-766.
Vieira, A. et al. (2017). Gender differences and professional identities in health and engineering. BAR-Revisão da Administração Brasileira, 14(1), e160082.