Resumo

A relevância social e econômica da mulher agricultora, especialmente na agricultura familiar, vem sendo cada vez mais reconhecida. Entretanto, o contexto é ainda de prevalência masculina. Um dos aspectos que contribui para uma redução dessas diferenças sociais, bem como para o empoderamento feminino, é a atuação empreendedora das mulheres agricultoras. Ao passo que essas mulheres acessam o controle produtivo e a gestão de atividades dentro da propriedade rural, inclusive sendo responsáveis pela comercialização, sua autonomia e poder aumentam, reduzindo diferenças entre os gêneros.

Considerando o contexto, se questiona: o empreendedorismo feminino na agricultura familiar também pode contribuir para a redução da migração rural-urbana pelas jovens rurais? Pode ainda contribuir para ampliar processos de sucessão familiar em que as jovens mulheres sejam as sucessoras? Baseado nestas questões e problema de pesquisa, a presente investigação buscou compreender as características da sucessão familiar na agricultura à luz das lentes teóricas da inovação social e do empreendedorismo feminino.

A sucessão familiar no meio rural ainda possui um ambiente dominado pelos homens, nos quais aspectos de gênero são influenciadores para que as filhas mulheres não permaneçam no campo ou, mesmo que permaneçam, não exerçam papéis de liderança. Pelo olhar da inovação social e do empreendedorismo feminino observam-se cinco elementos centrais: aspectos pessoais; financeiros; educacionais; familiares; e, de políticas públicas. Assim, três lentes teóricas foram analisadas: inovação social, empreendedorismo feminino e sucessão familiar.

Trata-se de uma pesquisa de abordagem quanti e qualitativa, com estudo de caso. O escopo do estudo foi mulheres agricultoras familiares empreendedoras do município de Getúlio Vargas - RS. As fases da pesquisa foram definidas: a) pesquisa bibliográfica em artigos científicos para o embasamento teórico e construção do instrumento de coleta de dados; b) coleta de dados a partir de um questionário enviado de forma on-line. Foram investigadas 33 mulheres (15 mães e 18 filhas). Sendo de comunidades e idades distintas, proporcionou uma amostra representativa das mulheres do meio rural na região.

Os achados da pesquisa inferem que as mulheres do meio rural optam pelo empreendedorismo rural, em detrimento do urbano, para terem mais tempo com a sua família. Essas atividades têm resultado em uma sobrecarga de trabalho e maior envolvimento e participação destas nas atividades vinculadas à área dos negócios da propriedade rural. As atividades lideradas por mulheres rurais são consideradas como inovação social, pois elas desenvolvem novas habilidades e competências, agregando novos conhecimentos e saberes, gerando renda para a família e desenvolvimento na comunidade onde estão inseridas.

Conclui-se que o protagonismo das mulheres na agricultura familiar influencia positivamente a permanência das filhas no campo. Para promover a igualdade de gênero, deverá se reconhecer e favorecer o protagonismo das mulheres na produção, gestão, comercialização e acesso às políticas públicas, estimulando e apoiando a geração de renda das mulheres, valorizando conhecimentos existentes, reconhecendo-as como participantes ativas da economia, garantindo direitos, oportunidades e participação nas decisões da propriedade.

AGOSTINI, M. R.; BITENCOURT, C. C.; VIEIRA, L. M. (2019). BATAGLIN, J. C.; KRUGLIANSKAS, I. (2022). BREITENBACH, R.; CORAZZA, G. (2021) LAWSON, L.; LAHIRI-DUTT, (2019) MAGUIRRE. M. V.; RUELA C. G. (2016). MOULAERT, F.; MEHMOOD, A. (2020). SUESS-REYES, J. & FUETSCH, (2016)