Resumo

As decisões de alocação de recursos são a base das estratégias corporativas e são tomadas por indivíduos suscetíveis a vieses cognitivos. Dado que a execução é onde normalmente falha a administração estratégica, o propósito desse trabalho é avaliar se há relação entre o nível de reflexão cognitiva (tendência ao uso das heurísticas) e os vieses na decisão sob incerteza na alocação de recursos estratégicos.

Há vários obstáculos à execução de uma estratégia, entre eles as decisões de alocação de recursos. Dados a importância da estratégia para o desempenho, o grande número de estratégias que falham em sua execução, e a importância das decisões de alocação de recursos para a estratégia, o problema analisado nesta investigação é: a tendência aos vieses cognitivos podem impactar as decisões de alocação de recursos e afetar a execução da estratégia? O objetivo, portanto, é analisar a influência dos vieses cognitivos nas decisões de alocação de recursos.

Bower e Gilbert (2007) afirmam que as decisões diárias dos gestores sobre onde comprometer os recursos que definem a real estratégia da companhia, e muitas dessas estratégias são malsucedidas (KAPLAN e NORTON, 2000) O estudo sobre as heurísticas e vieses (KAHNEMAN, 2012) levaram ao desenvolvimento de um teste para avaliar a tendência às decisões baseadas em heurísticas (Teste de Reflexão Cognitiva - CRT), por Frederick (2005). Primi et al (2015) ampliaram o teste (CRT-L) em 3 perguntas, com alpha de Cronbach de 0,76.

A pesquisa foi conduzida online com o objetivo de avaliar se há relação entre o nível de reflexão cognitiva dos indivíduos e os vieses na decisão de alocação, e se o nível de comprometimento de recursos afeta esses vieses. A variável independente será a tendência aos vieses cognitivos (CRT-L), e a variável dependente será a decisão de alocação dos recursos em duas situações, medida através da apresentação de um case em animação com duas decisões que ilustram situações hipotéticas, uma voltada para o resultado de curto prazo e outra voltada para a estratégia de longo prazo da companhia.

O teste utilizado foi o qui-quadrado de Person para avaliar as distribuições entre as escolhas nas decisões. Na decisão com baixo comprometimento, verificou-se uma distribuição estatisticamente diferente (alfa de 0,10) para o grupo heurístico daquela esperada (<0,01), o que não aconteceu com o grupo racional (0,15). Na decisão com maior comprometimento ocorreu o mesmo (heurístico com 0,09 e racional com 0,78), mais próximo do esperado (50% / 50%). Foram observadas diferenças nos vieses conforme o comprometimento da decisão (<0,01 para o grupo heurístico e 0,08 para o grupo racional).

As duas principais conclusões são: i) há viés de acordo com o nível de reflexão cognitiva do decisor (tendência ao uso das heurísticas), e ii) o nível de comprometimento de recursos da decisão mobiliza recursos cognitivos e leva inclusive os indivíduos mais heurísticos a tomar decisões mais ponderadas, aproximando a decisão àquela do grupo racional. Há potencial impacto à execução das estratégias decorrente de vieses nas decisões de alocação de recursos, cuja origem é reflexão cognitiva dos indivíduos.

BOWER, J. L.; GILBERT, C. G. How Managers' Everyday Decisions Create or Destroy Your Company's Strategy. Harvard business review, v. 85, n. 2, p. 72-154. 2007. FÁVERO, L. P., BELFIORE, P. Manual de análise de dados: estatística e modelagem multivariada com Excel®, SPSS® e Stata®. Elsevier Brasil. 2017. KAHNEMAN, D. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva. 2012. PRIMI, C., MORSANYI, K., CHIESI, F., DONATI, M. A., HAMILTON, J. The Development and Testing of a New Version of the Cognitive Reflection Test Applying Item Response Theory (IRT). Journal of Behavioral Decision Making. 2015