1 - Sâmela Pedrada Cardoso UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - Goiabeiras
2 - ISAAC GEZER SILVA DE OLIVEIRA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE (MACKENZIE) - campus Higienópolis
Reumo
Para investigar a realidade complexa e atarefada das famílias, utilizo os Estudos Organizacionais como uma lente teórica capaz de compreender família a partir dos processos organizativos, dos laços afetivos, do convívio, das relações e das diversas formações familiares que se desvelam na contemporaneidade. Busco trazer à tona como os espaços urbanos possibilitam a invenção cotidiana da infância na cidade, espaços de sociabilidade da vida ordinária, seja na apropriação do espaço público ou nos usos e consumos dos espaços privados (Certeau et al., 2005).
Há uma escassez de estudos utilizam a lente micropolítica de Certeau para investigar como o bairro é capaz de elucidar práticas culturais dos citadinos e é nesta lacuna teórica que situo a presente pesquisa. Nesse sentido, o artigo partiu da problematização: Como o bairro se relaciona com o organizar familiar no cotidiano de famílias com crianças? O Objetivo da pesquisa consistiu em compreender como se desvela a relação entre o bairro e o organizar familiar no cotidiano de famílias com crianças.
Ao utilizar a práxis social como ontologia e epistemologia, aproximo o debate dos Estudos Organizacionais da sociologia urbana, possibilitando outros olhares a fenômenos já conhecidos e permitindo enxergar a família como uma realização, uma organização sempre em curso que permite colocar em evidência o indivíduo comum e a inventividade do cotidiano familiar. Dessa forma o referencial teórico é constituído com base no "organizar" da família nos estudos organizacionais e na ótica das relações entre infâncias e espaços urbanos.
A pesquisa possui abordagem qualitativa, que faz jus ao objetivo da pesquisa pois se mostra adequada para compreender a complexidade social das práticas cotidianas (Certeau, 1998). São entrevistadas, por meio de amostragem bola de neve, oito famílias com crianças pequenas ao elencar como critério que a família tivesse pelo menos 1 filho com idade menor de 5 anos, criança considerada inserida na primeira infância.
A relação entre o espaço urbano e o organizar das famílias com crianças pequenas possui uma enormidade de atravessamentos, seja espaciais, temporais, econômicos, familiares, entre outros. Desse modo organizou-se os resultados em sete categorias de análise: pandemia, escola, rede de apoio, rotina, parquinhos, espaços e bairros.
Compreendi que, para as famílias pesquisadas, a criança é o cerne do organizar familiar e com isso, dediquei atenção a dois aspectos estruturantes que emergiram dos dados: o bairro em que residem e a quantidade de filhos que possuem e considero que ambos foram cruciais para responder ao objetivo do texto. Verifico uma experiência antagônica em relação as famílias que residem em bairros periféricos. Ademais, constato o bairro de residência das famílias com crianças pequenas como um dos aspectos estruturantes que moldam a infância, mas que produz desigualdades nas cidades brasileiras.
Certeau, M. De. (1998). A Invenção do Cotidiano: Artes de Fazer. Editora Vozes.
Certeau, M. De, Giard, L., & Mayol, P. (2005). A invenção do cotidiano 2: morar, Cozinhar (E. F. (tradução) Alves (ed.)). Vozes.