Resumo

Caracterizada como um produto genuinamente brasileiro, cuja trajetória perpassa todo o contexto histórico do país desde a época colonial, a cachaça, na última década passou a ser reconhecida como uma bebida consumida pela elite, conquistando os paladares de um consumo de alto valor agregado. Para que o produto atingisse tal reconhecimento e perdesse a imagem de um produto inferiorizado, foram necessárias mudanças culturais em valores e hábitos de seus consumidores. como uma nova perspectiva de estudo sobre essa dinâmica, emerge o Trabalho Institucional, uma nova vertente do Institucionalismo.

As particularidades presentes no campo da cachaça norteiam o desenvolvimento da questão central que orienta o presente estudo, que visa responder: como o Trabalho Institucional dos atores envolvidos modificaram as boas práticas de produção da cachaça mineira? Para responder a esta questão, o objetivo desta pesquisa foi compreender como o trabalho institucional executado pelo estado tem contribuído para a desinstitucionalização e institucionalização de boas práticas de produção no atual contexto de produção de cachaça.

O campo da cachaça é marcado por práticas de produção que perduram desde o período colonial, que datam o início da produção da bebida. Portanto, muitas dessas práticas sofreram alterações ao longo dos anos, mudanças provocadas por ações intencionais e não intencionais que influenciam diretamente na agência e estrutura. Para tal, fundamentou-se na teoria institucional, especificamente, no arcabouço teórico do trabalho institucional, sendo “ação proposital de indivíduos e organizações destinadas à criação, manutenção e ruptura de instituições” (LAWRENCE; SUDDABY, 2006, p. 215).

Adotou-se uma abordagem qualitativa, com foco exploratório e descritivo.O estudo foi realizado junto aos agentes que atuam no campo da cachaça, sendo eles produtores, ex produtores, responsáveis técnicos, servidores de órgãos inseridos no campo da cachaça e pesquisadores do setor. A coleta de dados foi realizada em duas etapas: a pesquisa documental e trabalho de campo com entrevistas. Para analisar os dados, foi utilizado a técnica de análise e interpretação dos dados de análise de conteúdo temática, baseada em Braun e Clark (2006) e Clark e Braun (2013).

ao trabalho institucional no campo da cachaça, tem sua origem ligada à época da coroa portuguesa, que realizou ações para a proibição da produção da bebida, criando barreiras coercitivas para mudança institucional, por meio de sanções, multas e penas. Entretanto, os produtores resistiram e enfrentaram a proibição de forma organizada, contribuindo para a reconfiguração do sistema de crenças dos agentes, criando identidade própria, por meio da manutenção das práticas. Identificaram-se três tipos de trabalhos, sendo o trabalho político, trabalho técnico e trabalho cultural de institucionalização.

O foco da investigação dos processos por meio dos quais a ação conduz às mudanças institucionais se traduzem em práticas concretas empregadas pelos diversos agentes para implantá-las. O trabalho de institucionalização de boas práticas está relacionado à criação de um novo modelo de inspeção e fiscalização no campo da cachaça, o qual vem sendo conduzido oficialmente desde 2017, em parceria entre IMA e MAPA, sendo esta parceria nova e ainda buscando legitimidade e institucionalização.

LAWRENCE, T. B., SUDDABY, R. Institutions and Institutional Work. In S. Clegg, C. Hardy, T. B. Lawrence & W. R. Nord (Eds.), The SAGE handbook of organization studies (2nd ed., pp. 215-254). London: Sage. 2006 TEIXEIRA, T. S. O trabalho institucional e a institucionalização de boas práticas de produção: Um estudo no campo mineiro da cachaça. Dissertação de mestrado apresentado na Universidade Federal de Lavras. 10 de fevereiro de 2020.