Resumo

A disseminação de novas TICs, aliada ao intenso processo de globalização que caracteriza o século XXI, tem ocasionado profundas transformações de cunho cultural, político e econômico em nossa sociedade. São evidenciadas mudanças nas formas de produção, consumo, transportes e organização dos sistemas logísticos (Schwab, 2018), as quais além de influenciar a sociedade, requerem aperfeiçoamento da legislação e estabelecimento de políticas públicas adequadas. Nesta dinâmica, a “Uberização” se revela como um fenômeno emergente, associado à economia de compartilhamento (Franco & Ferraz, 2019).

A natureza complexa e multifacetada da “Uberização” desperta o interesse da comunidade acadêmica, justificando a realização deste trabalho com o intuito de melhorar a compreensão do fenômeno, que tem se destacado como uma importante questão de debate no cenário contemporâneo. O estudo busca sistematizar a contribuição dos diversos autores que têm estudado a “Uberização”, baseando-se em uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) que se propõe a levantar o "estado da arte" neste campo de investigação.

O crescimento vertiginoso das práticas mercadológicas orientadas para o acesso a bens e serviços motivou estudos como o de Telles Jr. (2016), com o objetivo de redefinir o conceito de empresa digital (Silva & Cecato, 2017). Para Cramer e Krueger (2016), a “Uberização”, enquanto modelo de negócios, otimiza o contato entre o prestador de um serviço e seu demandante, contribuindo para a redução de custos de transação. Por outro lado, as empresas-aplicativo têm se constituído como um modelo de negócios que está destruindo rapidamente o trabalho regular (Hill, 2015).

O número de publicações sobre a temática “Uberização” tem crescido nos últimos anos. A análise dos resultados permite identificar duas abordagens principais sobre a temática. A primeira, e mais proeminente, trata a “Uberização” como fenômeno que provoca a deturpação no mundo do trabalho, apresentando-se como agente depreciador, desrespeitando a regulamentação e fragilizando as relações trabalhistas. A segunda vertente compreende a “Uberização” como um modelo de negócios, evidenciando suas particularidades, oportunidades e riscos de empreendimentos baseados nos modelos de intermediação digital.

Perceber que o mesmo termo (“Uberização”) aparece na literatura com significados bastante distintos, atribuindo-se a ele, em alguns casos, uma conotação bastante negativa (precarização das relações de trabalho), enquanto em outros a visão é positiva (modelo de negócios que gera oportunidades no mercado) é uma contribuição importante deste trabalho.

Eckhardt, G., & Bardhi, F. (2015). The sharing economy isn’t about sharing at all. Harvard Business Law Review, 28 January. Franco, D. S.; & Ferraz, D. L. S. (2019). Uberização do trabalho e acumulação capitalista. Cadernos EBAPE.BR, 17 Nnajiofor, P. (2017). The new sharing economy: creation of a new serfdom? Perspectives on Global Development and Technology (16), 297-314 Sundararajan, A. (2016). The sharing economy: The end of employment and the rise of crowd-based capitalism. Cambridge MA. The MIT Press.