Resumo

Após ter institucionalizado os modelos de gestão burocrático e gerencialista, a administração pública parece caminhar para um novo cenário (BRYSON; CROSBY; BLOOMBERG, 2014) denominado Pós-Nova Gestão Pública (Pós-NGP). De acordo com Cavalcante (2019), a Pós-NGP compreende as seguintes tendências: colaboração e parcerias; redes; visão integrada e holística da gestão pública; accountability e responsividade; participação e engajamento; liderança; coordenação e controle; e-government; e fortalecimento da burocracia pública.

Pesquisas sobre a Pós-NGP se concentram em países desenvolvidos. Pouco se sabe sobre a presença da Pós-NGP nos países em desenvolvimento. No Brasil, existem evidências de manifestações da Pós-NGP nas principais inovações do governo federal e na gestão dos governos estaduais e municipais. Ao melhor de nosso conhecimento, até agora não existem pesquisas investigando a presença da Pós-NGP na gestão educacional brasileira. O objetivo do artigo é verificar a presença de manifestações da Pós-NGP na gestão educacional pública brasileira.

A Pós-NGP surge como uma resposta frente aos desafios atuais de se trabalhar em rede sob uma perspectiva multisetorial, onde a responsabilidade pelos trabalhos é compartilhada (BRYSON; CROSBY; BLOOMBERG, 2014). A Pós-NGP busca unificar as atividades das organizações públicas por meio de esforços de trabalho coletivo com a sociedade e o setor privado na tomada de decisão e na produção dos serviços públicos (CHRISTENSEN; LÆGREID, 2007). Espera-se que gestores públicos criem condições para a formação de redes e diretrizes que facilitem o processo de deliberação e de entrega dos serviços públicos.

Delimitou-se a análise em torno do PDI 2019-2024 do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes). A coleta de dados foi feita por meio de um checklist, onde cada objetivo estratégico do PDI do Ifes foi comparado com os princípios, significados e descritores das tendências da Pós-NGP. A partir dessa leitura, os objetivos foram agrupados e associados com as tendências da Pós-NGP. Procurou-se verificar por meio do checklist se cada objetivo definia explicitamente os resultados esperados, metas e ações de implementação.

Além do próprio checklist, foi feita uma análise textual do PDI do Ifes seguindo procedimentos semelhantes adotados pela literatura. Como suporte a esse procedimento, analisaram-se os dados também por meio da investigação interpretativa, que considera que fatos sociais são construídos socialmente e são pertencentes aos seus contextos particulares.

O artigo mostrou que existem evidências de manifestações da Pós-NGP na gestão educacional pública brasileira, mais especificamente no planejamento estratégico acadêmico. Essas evidências convergem com resultados de pesquisas anteriores sobre o tema e sugerem que mesmo em países em desenvolvimento é possível identificar tendências da Pós-NGP. Isso reforça o caráter emergente do fenômeno e a consideração de novas abordagens para a administração pública.

BRYSON, J. M.; CROSBY, B. C.; BLOOMBERG, L. Public value governance: Moving beyond traditional public administration and the new public management. Public Administration Review, v. 74, n. 4, p. 445–456, 2014. CAVALCANTE, P. L. C. Tendências inovadoras de gestão nos governos subnacionais brasileiros. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, v. 24, n. 79, p. 1–20, 2019. CHRISTENSEN, T.; LÆGREID, P. The whole-of-government approach to public sector reform. Public Administration Review, v. 67, n. 6, p. 1059–1066, 2007.