Resumo

A Administração Pública (AP) pode ser entendida como um campo, área ou disciplina das ciências sociais. Essas ciências, na América Latina (AL), sujeitaram-se ao contexto sociopolítico de cada nação, tendo uma orientação reformista e crítica. Atualmente, nessa região, praticamente todos os paradigmas tradicionais de gestão pública estão sendo questionados, já que nenhum deles, com algumas honrosas exceções, foi capaz de fornecer uma resposta eficaz aos problemas crescentes que ameaçam destruir as fundações já corroídas sobre as quais repousa a própria existência do Estado.

O problema de pesquisa é: quais as características comuns e divergentes entre a produção de autores brasileiros e a produção de autores latino americanos não brasileiros? Desta forma, o presente estudo tem por objetivo fazer um levantamento dos estudos em AP na América Latina, com o objetivo de identificar essas características.

A Administração Pública (AP) surgiu entre o final do século XIX e o início do século XX, e tinha como foco a preparação de servidores para a AP moderna nos EUA (Farah, 2011). Para Berrones (2009), a AP moderna tem raízes que a definem como uma disciplina com identidade própria. Historicamente, o pensamento social na América Latina sofreu forte influência europeia (Nunes, 2005). Nas últimas décadas, na maioria dos países latino-americanos, com suas democracias consideradas imperfeitas, houve diminuição na legitimidade da AP (Dani, Dal Magro, Matias-Pereira, & Zonatto, 2018).

O presente estudo, exploratório e descritivo, busca fazer um levantamento dos estudos em AP na América Latina. Foi feita pesquisa bibliográfica, onde se contextualizou historicamente as ciências sociais e a AP na América Latina, e realizada pesquisa bibliométrica, a partir da base Scielo, com artigos de autores latino-americanos que abordam a AP. A base Scielo foi escolhida por ser uma base multidisciplinar constituída, principalmente, de periódicos da América Latina e Caribe. Os dados foram analisados a partir das ferramentas da plataforma Web of Science e por meio do software VOSviewer.

Os resultados obtidos a partir de dados coletados na base Scielo, apontam que, do total de produção acadêmica na América Latina sobre AP, que totaliza 949 publicações, 594, ou 62,6%, tem pelo menos um autor vinculado a instituição de pesquisa brasileira. Após o Brasil, os outros países com mais publicações são México, com 106 publicações; Colômbia com 90 e Chile com 71. Há predominância de pesquisadores vinculados a instituições públicas, e forte presença de periódicos relacionados à área da saúde.

O tema tem ganhado relevância e importância na academia latino-americana, o que pode ser verificado no aumento bastante regular no número de artigos publicados ao longo dos anos. A produção brasileira responde por mais de 60% da produção da América Latina. Desses, apenas 4 tem coautoria entre brasileiros e latino-americanos não brasileiros. Ou seja, a integração por esse prisma é bem pequena. Dos 14 artigos que tiveram 14 ou mais citações (h-index), todos são de autores brasileiros. As instituições que produzem essas pesquisas são, na quase totalidade, universidades, e na maioria, públicas.

Berrones, R. U. (2009). Condiciones, procesos y tendencias de la administración pública contemporánea. Convergencia, 16(49), 73-102. Nunes, E. D. (2005). Ciências Sociais em Saúde: uma reflexão sobre sua história. In: M. C. S. Minayo, & C. E. A. Coimbra Júnior (Orgs). Críticas e atuantes: ciências sociais e humanas em saúde na América Latina. Rio de Janeiro: FIOCRUZ. Dani, A. C., Dal Magro, C. B., Matias-Pereira, J., & Zonatto, V. C. da S. (2018). Efeitos da Qualidade da Governança Pública no Sentimento de Confiança da População em Paí.... Administração Pública E Gestão Social, 10(4), 228-238