O volume de movimentação em portos no mundo cresceu acima de 350% entre 2000 a 2018. Em 2019 houve queda na movimentação mundial e a partir da crise de saúde pública do COVID-19, a incerteza de demanda pode impactar o retorno de investimentos no setor. A atração de investimentos privados para o setor portuário é extremamente relevante para contribuir com o crescimento econômico brasileiro. O desenvolvimento de modelagem financeira que incorpore incertezas pode contribuir para avaliações mais adequadas para essa classe de projetos.
O investimento em portos no Brasil ainda é pouco representativo, apesar da sua importância para o país. Tradicionalmente adota-se o método do fluxo de caixa descontado (FCD) para avaliação financeira de projetos no setor. No entanto, este método não capta flexibilidades gerenciais e não permite a adequada modelagem de incertezas. O objetivo do presente estudo é propor um modelo financeiro para expansão de terminais portuários no Brasil, incorporando a flexibilidade de expansão sequencial pela teoria de opções reais.
Os portos contribuem para 90% das exportações e importações brasileiras. O setor movimenta aproximadamente 1 bilhão de toneladas anuais. Diversos fatores de incerteza impactam a viabilidade destes projetos. A avaliação de projetos por opções reais no setor portuário, tem sido abordada na literatura recente (Balliauw et al., 2019; Randrianarisoa & Zhang, 2019; Zheng & Negenborn, 2017). Entre os estudos pesquisados, no entanto, ainda não foram obtidos achados quanto a opções americanas de forma tão intuitiva como observado no presente estudo.
O modelo binomial proposto foi aplicado na avaliação da opção de expandir ou adiar a expansão de capacidade em etapas para terminais portuários, como uma abordagem ampliada, contemplando dividendos. Dessa forma, o modelo incorpora a flexibilidade de tomada de decisão a qualquer momento ao longo da vida útil do projeto, permitindo o cálculo de opções americanas sequenciais. A incerteza de demanda do projeto foi modelada como um movimento geométrico browniano (MGB).
O modelo foi aplicado a um projeto portuário real no Brasil, que realizou prorrogação antecipada com obrigação de investimentos. Pela metodologia do FCD, o VPL do projeto é negativo em R$ 61,3 milhões. No modelo por opções reais, a primeira etapa de expansão e adiamento geraria um VPL expandido positivo de R$ 393,5 milhões. Ao avaliar a flexibilidade da etapa 2, composta com a etapa 1, o VPL passa a ser de R$ 425,2 milhões. Com a opção composta de expandir a etapa 3, composta e otimizada à tomada de decisão flexível das etapas 1 e 2, o projeto passa a ter um VPL de R$ 463,5 milhões.
O planejamento da infraestrutura portuária no Brasil demanda estudos mais aprofundados com modelagens e flexibilidades em contratos. A análise de viabilidade financeira tradicional de investimentos em portos, baseada em datas predeterminadas, pode ser aliada a uma abordagem mais flexível, sobretudo em países emergentes como o Brasil. O modelo proposto no presente estudo, com opções americanas sequenciais de expansão, aplicado ao caso de um Terminal de Contêineres no Brasil corrobora a hipótese de que é possível obter maior valor a um projeto portuário, se houver flexibilidade contratual.
Balliauw, M.,Kort,P. M.,&Zhang,A.(2019).Capacity investment decisions of two competing ports under uncertainty:A strategic real options approach. Transportation Research Part B: Methodological, 122, 249 - 264. Randrianarisoa,L. M.,&Zhang,A.(2019).Adaptation to climate change effects and competition between ports: Invest now or later? Transportation Research Part B:Methodological, 123, 279 - 322. Zheng, S.,&Negenborn, R.R.(2017). Terminal investment timing decisions in a competitive setting with uncertainty using a real option approach. Maritime Policy&Management, 44(3), 392-411.