Resumo

Empresas interagem com pessoas de diferentes formas. Além da produção e venda de seus bens e serviços, as empresas também interagem, direta e indiretamente, com os diversos grupos envolvidos e impactados por suas operações, os chamados stakeholders. No final de 2015, foi divulgado que a empresa Volkswagen fora flagrada, nos Estados Unidos, fraudando seus veículos movidos a diesel, tendo equipado-os com softwares não autorizados de controle de emissão de poluentes. Após essa revelação, outras fabricantes de carro também foram flagradas executando ações semelhantes em outras partes do mundo.

Tendo como base a contradição entre o aumento da responsabilidade socioambiental que as fabricantes de veículos deveriam ter, de um lado, e os efeitos nocivos que as práticas de algumas dessas fabricantes causaram ao longo de anos de atividades fraudulentas, de outro lado, desenvolveu-se esta pesquisa com o objetivo de averiguar o uso de motores e tecnologias pela indústria automotiva mundial que dizem ser mais eficientes visando a proteção socioambiental.

Os anos de 1960 a 1980 foram marcados pelos movimentos sociais e ambientais. As empresas que, no passado, se preocupavam apenas com a sua situação econômica e com seus acionistas (shareholders) (SANTOS, 2016), foram convocadas a atuar também no contexto social, considerando as demandas da sociedade, dos seus stakeholders e do meio ambiente a sua volta (BUSCH; RIBEIRO, 2009; ORELLANO; QUIOTA, 2011). Nossa et al. (2009) e Tomei (1984) ressaltam que a responsabilidade social e ambiental das empresas englobam um conjunto de atividades que elas desempenham em favor da sociedade.

Esta é uma pesquisa descritiva (COLLIS; HUSSEY, 2014), de abordagem qualitativa (GODOY, 1995a), e que utilizou a pesquisa documental como sua técnica de coleta de dados. Para a pesquisa documental, foram analisados materiais escritos, como matérias de revistas e jornais eletrônicos, sites especializados e documentos legais; estatísticas; e elementos iconográficos. Para a análise dos dados, foi utilizada a técnica da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2002). A seleção dos materiais analisados foi feita seguindo os critérios expostos por Bardin (2002) de representatividade, homogeneidade e pertinência

Thompson et al. (2014) descobriram que dois carros movidos a diesel da Volkswagen estavam emitindo óxido de nitrogênio até 35 vezes acima do limite máximo permitido pela lei norte-americana. Em setembro de 2015, o Grupo Volkswagen admitiu que havia fraudado até 11 milhões de seus carros movidos a diesel em todo o mundo (CREMER, 2015). A Comissão Europeia, em abril de 2019, concluiu preliminarmente que o Grupo Volkswagen, a BMW e a Daimler haviam colaborado entre si para atrasar o desenvolvimento e implantação de tecnologias de limpeza de emissão de poluentes em veículos a diesel e gasolina.

Conclui-se que parte das fabricantes de veículos se utilizou de práticas ilegais e antiéticas nos últimos anos buscando superar obstáculos técnicos e legais, e buscando ampliar sua vantagem competitiva de forma indevida sob seus concorrentes de mercado. Mediante os eventos analisados nesta pesquisa, pode ser dito que a legislação e a fiscalização foram fatores essenciais, pois contribuíram para o descobrimento inicial, desenvolvimento do processo legal, conclusão e posterior punição de empresas que executaram práticas ilegais, antiéticas e/ou prejudiciais à sociedade e ao meio ambiente.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002 CARROLL, A. B. The pyramid of corporate social responsibility: Toward the moral management of organizational stakeholders. Business Horizons, n. 34, p.39-48, 1991. CARROLL, A. B.; SHABANA, K. M. The business case for corporate social responsibility: a review of concepts, research and practice. International Journal of Management Reviews, v. 12, n. 1, p. 85-105, 2010. LYON, T. P.; MONTGOMERY, A. W. The Means and End of Greenwash. Organization & Environment, v. 28, n. 2, p. 223-249, 2015.