Resumo

No contexto da chamada Indústria 4.0, a digitalização pelo uso da internet se disseminou extensivamente, desde a estruturação da produção ao próprio processo de tomada de decisão. Nesse ecossistema de empreendedorismo tecnológico, onde a inovação é condição central, se destacam as plataformas digitais, que passam a conectar atores econômicos em meio digital para a prestação de serviços sob demanda ou para a cessão de ativos ociosos. Em decorrência dessas modificações, os profissionais de gestão se defrontam com novos desafios, e novas habilidades passam a ser requeridas.

Assim, diante a ascensão das plataformas digitais, especialmente as do tipo peer-to-peer de economia compartilhada, a presente pesquisa tem por problema central: qual a abordagem tem sido dada a esse tipo de empreendedorismo inovador pela literatura e quais são os principais desafios que recaem aos profissionais de gestão nele inseridos? Para responder essa questão tem-se por objetivo central identificar os fatores analíticos atuais das plataformas digitais compartilhadas no âmbito da gestão, bem como compreender a visão dos stakeholders desse tipo de modelo de negócio acerca de seus impactos.

Na perspectiva de Parker, Van Alstyne e Choudary (2016), as plataformas digitais se definem como um novo modelo de negócios em que, a partir do uso da tecnologia, torna-se possível conectar atores. Decorrente disso, os principais ativos de um negócio estruturado em plataforma digital são as informações e interações, que em conjunto criam vantagens competitivas para o negócio (ALSTYNE et al., 2016). Nesse sentido, conforme ressalta Rampasso et al. (2020), uma questão a ser enfrentada pelo sistema de educação superior é o desafio em preparar os jovens profissionais nessa nova realidade.

Tendo como base a análise bibliométrica de dados, com foco na análise de trabalhos científicos, e a realização de entrevistas semiestruturadas, esta pesquisa apresenta uma abordagem com triangulação quali-quantitativa. Os dados para análise bibliográfica foram coletados da principal coleção da Web of Science. Já as entrevistas foram realizadas com três atores de pesquisa ligados a arranjos de ecossistemas de inovação, dois no Brasil e um nos Estados Unidos da América. As entrevistas foram realizadas mediante um roteiro previamente elaborado e os resultados analisados por seu conteúdo.

Os resultados bibliográficos indicam a existência de seis frentes de pesquisa concentradas em poucos países. Em síntese, as pesquisas têm focalizado na reestruturação, ocasionada por processos de inovação, da forma de consumo, trabalho e na forma como se estruturam as organizações. Já no que tange às perspectivas dos stakeholders, verifica-se que o enfoque principal se volta para como os modelos de negócios criam e entregam valor, a partir do talento dos atores organizacionais. Talento esse visto como competências práticas, ainda pouco desenvolvidas pelos cursos de graduação da área de gestão.

Em síntese, os principais impactos das plataformas, em relação à gestão, se concentram em alguns pontos e que, aparentemente, se revelam gargalos ainda pouco explorados pela literatura, com destaque para criação e entrega de valor ao consumidor final, destacando-se o papel das habilidades dos gestores do nível estratégico. No contexto dessa relação, sobressaem à busca de capital e a garantia da funcionalidade da plataforma.

PARKER, G. G., VAN ALSTYNE, M. W.; CHOUDARY, S. P. Platform Revolution: How Networked Markets Are Transforming the Economy? and How to Make Them Work for You. New York: WW Norton & Company, 2016. ALSTYNE, M. W.V; PARKER, G. G.; CHOUDARY, S. P. Pipelines, plataformas e novas regras de estratégia. Harvard Business Review, v. 94, n. 4, p. 32-40, 2016. RAMPASSO, I. S. et al. An investigation of research gaps in reported skills required for Industry 4.0 readiness of Brazilian undergraduate students. Higher Education, Skills and Work-Based Learning, v.(ahead-of-print), n.(ahead-of-print), 2020.