Resumo

Exploramos nesse estudo os vínculos entre a recente experiência de falha empreendedora e o comportamento inovador na criação de startups. Analisando uma amostra de 47.994 empreendedores nascentes ou proprietários de um novo negócio entrevistados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) entre 2012-2015 em 39 países, nossos resultados sugerem que a falha empreendedora recente (menos de 12 meses) está significativamente associada à decisão do indivíduo em iniciar um negócio inovador através inovação de produto ou serviço, inovação de processo ou inovação de modelo de negócio.

Esse estudo está orientado pela seguinte questão de pesquisa: Qual o efeito de experiências recentes de falhas empreendedoras no engajamento de iniciativas de inovação para criação de startups? Diante dos achados antagônicos na literatura sobre o impacto das falhas, reduzindo a eficácia cognitiva ou auxiliando no desenvolvimento cognitivo ao introduzir uma maior diversidade ao esquema do empreendedor, temos como objetivo trazer considerações teóricas e evidências empíricas sobre o efeito de falhas empreendedoras recentes no processo de decisão de criação startups.

Empreendedores experientes renovam o interesse por abrir um novo negócio dado o acúmulo de conhecimento e melhora de competências e habilidades (ESPINOZA & DÍAZ, 2019; HESSELS et al., 2011; OLUGBOLA, 2017). Mas diante de uma experiência recente de falha, o interesse pela entrada em novos negócios é ambíguo. Pela Teoria dos Prospectos de Tversky e Kahneman (1981), modelamos o nosso problema para estudar de empreendedores que estão em uma posição de perda em relação ao ponto de referência individual, engajam-se em atividades de risco, como a criação de startups, para compensarem perdas recentes.

Esse estudo, de caráter quantitativo, descritivo e não experimental, utilizou dados secundários disponibilizados pelo GEM. Através de uma amostra com 47.994 empreendedores de 39 países entrevistados entre 2012 e 2015, os dados foram analisados pelo modelo probit, um tipo de regressão usualmente utilizado para modelar variáveis dependentes dicotômicas ou binárias.

Após seleção das variáveis com base na literatura e análise estatísticas relacionadas ao modelo probit, encontramos evidências de que empreendedores que apresentaram falhas recentes possuem maior probabilidade de se engajarem em negócios inovadores, ou seja, mais arriscados e incertos. Nosso achado está de acordo com a teoria prospectiva (Tversky e Kahneman, 1981), sugerindo que empreendedores em uma situação de perda muitas vezes são, na verdade, mais propensos ao risco pois visualizam uma pequena chance de recuperar o ponto de referência inicial.

Nossa expectativa inicial centrava na ideia de que as perdas recentes causadas por falhas dos empreendedores aumentariam suas respectivas propensão ao risco, facilitando a criação de empresas mais inovadoras, as quais por definição são mais arriscadas. Como resultado das regressões, encontramos evidência de que experiências recentes de falha aumentam a probabilidade do empreendedor inovar em produto/serviço, em processos e em modelo de negócios. Sendo assim, o empreendedorismo inovador pode ser influenciado por mudanças no esquema cognitivo dos indivíduos.

Bessant, J., & Tidd, J. (2009). Inovação e empreendedorismo: administração. Bookman Editora. Tversky, A., & Kahneman, D. (1981). The framing of decisions and the psychology of choice. science, 211(4481), 453-458. Koellinger, P. (2008). Why are some entrepreneurs more innovative than others?. Small Business Economics, 31(1), 21. Ucbasaran, D., Shepherd, D. A., Lockett, A., & Lyon, S. J. (2013). Life after business failure: The process and consequences of business failure for entrepreneurs. Journal of Management, 39(1), 163-202.