Resumo

Ao longo dos últimos 14 anos o mercado editorial brasileiro apresentou retração de 20%. Somado ao contexto mercadológico local, à tendência de crescimento do mercado de livros digitais se apresenta como um elemento capaz de gerar alterações mais profundas nas práticas de compra e consumo dos leitores ao redor do mundo. Estes fatores apontam para um momento de mudanças no mercado livreiro, tanto mundial como nacionalmente. Entretanto, o livro ainda parece ocupar um papel de destaque, símbolo de conhecimento em nossa sociedade.

Assumindo um arcabouço teórico fundamentado na análise da cultura material na trajetória da humanidade e na contemporaneidade, entendemos que o livro pode ser analisado para além de seu aspecto meramente funcional. Diante deste cenário de incertezas, nos parece premente investigar a relação entre o consumidor e o livro, a fim de compreender o que este objeto representa para os leitores. Partindo do contexto apresentado, este artigo tem como objetivo analisar a relação de leitores com o livro impresso, enquanto objeto da cultura material.

O livro é um objeto inserido em nossa sociedade há séculos, por isso é importante refletirmos sobre seu papel dentro da cultura material. A relação do sujeito com os objetos que o cercam deve ser resgatada em sua importância, pois o artefato material transmite cultura, vivências e simbolismos que envolvem universos mentais com caracterização da subjetividade (MILLER, 2013). Segundo Dohmann (2013), os materiais passam de condicionados à condicionadores do seu próprio meio ambiente, participando por completo da vida cotidiana, acompanhando os indivíduos do nascimento até a morte.

Esta pesquisa vincula-se ao paradigma interpretativista, com abordagem de pesquisa qualitativa. O processo de construção do corpus de pesquisa se deu por meio da aplicação de entrevistas semiestruturadas com oito leitores, selecionados inicialmente a partir do critério de acessibilidade e em seguida por meio da técnica de bola de neve. A análise do corpus de pesquisa se deu por meio de análise de discurso, com o suporte da ferramenta Taguette, CAQDAS online gratuito que auxilia na organização e categorização do corpus de pesquisas qualitativas. Critérios de qualidade da pesquisa foram adotados

Por meio da análise do corpus foram geradas oito categorias, sendo cinco delas correspondentes às manifestações da relação do leitor com o livro impresso (O livro como objeto de posse, O livro como objeto de afeto, O livro como objeto de admiração, O livro como objeto material, O livro como objeto de dano ambiental) e três categorias referentes a características do livro impresso ou de seu processo de leitura (Concentração na leitura, Procedimentos analógicos, Dificuldade de acesso) indicadas pelos entrevistados.

Finalizada a pesquisa o livro se apresenta como objeto material multifacetado, suscitando diversas interpretações e permitindo diferentes formas do leitor relacionar-se com ele. Esta multiplicidade atesta a riqueza do livro enquanto objeto que cruza séculos de nossa história. Mesmo diante de um cenário de transformações no mercado de livros mundialmente, a relação estabelecida entre o leitor e o livro demonstra força e versatilidade capazes de garantir a adaptação do livro necessária mediante as mudanças em curso na sociedade. Limitações e indicações de futuras pesquisas são consideradas.

DARNTON, R. A questão dos livros. Passado, presente e futuro. São Paulo: Companhia das letras, 2010. DOHMANN, M. A experiência material: a cultura do objeto. Edição 1. Rio Books, 1 de janeiro de 2013. LYONS, M. Livro: uma história viva. São Paulo: Editora Senac, 2011. MILLER, D. Consumo como cultura material. Horizontes Antropolóicos, Fiueiredo, N. M. A. Método e metodologia na pesquisa científica. São Caetano do Sul: Yendis, 2007. V. 13, n. 28, p. 33-63, 2007. MILLER, D. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.