Resumo

Uma crise mundial foi instaurada em 11 de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a Covid-19 como pandemia. Os executivos de uma transportadora de gás natural por gasodutos deveriam implementar um plano de gestão de crise para lidar com a situação. E avaliar no planejamento estratégico da empresa quais iniciativas deveriam seguir, quais priorizar e quais abandonar. O cenário à frente era incerto. Até quando duraria a pandemia? Qual seria o seu efeito na economia? Qual seria o seu impacto social e nas relações de trabalho? Nenhuma dessas perguntas tinha resposta.

A NTS detém contratos de concessão para operar 2048 Km de gasodutos, atendendo os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Esses gasodutos escoam a produção do Rio de Janeiro e de Santos, no litoral Paulista. A estratégia definida a partir da compra do ativo previa que, até o seu quarto ano de operação, todas as atividades seriam absorvidas pela NTS. A estimativa era de contratação de mais 135 profissionais para a internalização de todas as atividades, desenvolvimento de processos e sistemas de suporte para essa operação, um investimento da ordem de R$ 320 MM, iniciado em 2019.

A empresa decidiu instaurar um comitê de crise para avaliar as medidas que seriam adotadas na Cia. O propósito do comitê diante do cenário de pandemia seria preservar a saúde dos empregados e de seus familiares, a continuidade operacional e a preservação do caixa da companhia. Esses objetivos atenderiam aos anseios de todos os stakeholders da NTS, a saber, investidores, empregados e comunidades no entorno da NTS. Estabelecidas as ações definidas pelo comitê de crise seria necessário revisitar o planejamento estratégico e, especialmente, o projeto de internalização das atividades operacionais.

O grupo avaliou o cenário que se apresentava em abril de 2020 no Brasil, diante da pandemia da Covid-19. Naquele momento, a curva de contaminação estava crescendo e a recomendação era o isolamento social. Das atividades previstas no cronograma do projeto, a contratação e treinamento dos empregados eram as mais impactadas pelo momento de isolamento social. Dessa forma, o time considerou que todas as atividades que envolviam o grupo de funcionários para a operação de gasodutos deveriam se adaptar para serem executadas no mesmo regime de teletrabalho que os demais empregados da Cia

Desde o início da pandemia, a NTS vem operando remotamente, com 100% dos empregados corporativos em teletrabalho. Nenhuma interrupção no serviço de transporte de gás natural foi registrada no período. Foram registrados 4 casos de contaminação dentre os 175 funcionários da Cia entre março e junho de 2020, bem como 4 casos de contaminação dentre 149 dependentes diretos. Nem um funcionário ou seu dependente precisou ser internado para tratamento e nem um óbito foi registrado. Todas as posições do projeto de primarização foram contratadas e o treinamento vem acontecendo de forma remota.

No momento em que esse relato técnico está sendo escrito, a pandemia ainda não terminou. A avaliação de sucesso ao lidar com uma crise geralmente é feita considerando erros e acertos das organizações, quando em situações como essa (Christensen, Lægreid et al., 2016; Coombs, 2000; Myer et al., 2007). Poder avaliar durante a crise erros e acertos, corrigir rumos e compartilhar esses aprendizados é de grande valor para as organizações (Caldeira & Godoy, 2011; Coombs, 2000) e espera-se que esse relato produza esse efeito ainda nesse momento da pandemia atual e para situações de crises futuras.