Resumo

O artigo objetiva demonstrar a articulação entre organização do trabalho e inovação na administração pública. Apresenta práticas relativas à estruturação do trabalho no setor público que culminam em inovações organizacionais e de processos, a partir das percepções de servidores públicos federais e estaduais que atuam diretamente com inovações e que trabalham com gestão de pessoas e inovam nas suas áreas setoriais. Os achados preliminares identificaram como inovações laboratórios e redes, ações ligadas ao teletrabalho, adoção de métodos ágeis e do design thinking nos projetos e processos.

Por meio da relação entre a dimensão "organização do trabalho", derivada das políticas e práticas de gestão de pessoas ou gestão estratégica de recursos humanos (GRH), e a inovação no setor público, este estudo desenvolve a seguinte problemática: como são percebidas as práticas relacionadas com a organização do trabalho que culminam em inovações no setor público? Dessa forma, o objetivo geral seria analisar as percepções dos servidores públicos federais e estaduais sobre as práticas de organização do trabalho que contribuem para inovações.

O pressuposto para este estudo é que as práticas de organização do trabalho estão vinculadas aos aspectos subjacentes às inovações no setor público. No que tange à organização do trabalho, Anttila, Oinas e Mustosmäki (2019) verificaram que apesar da expectativa por maior autonomia e flexibilidade, fatores contributivos para a inovação, a formalização do trabalho ainda persiste em organizações públicas. As práticas da Organização do Trabalho agiriam como antecedentes e determinantes, sejam como facilitadores/indutores, sejam como barreiras (DE VRIES; BEKKERS; TUMMERS, 2016; ISIDRO-FILHO, 2017).

Logo, esta pesquisa assume uma abordagem qualitativa e descritiva e parte do estudo de múltiplos casos em setores de inovação na esfera federal e estadual, enquanto atividade finalística, e em áreas setoriais de gestão de pessoas cujas atribuições estão vinculadas ao repensar novas alternativas para estruturar o trabalho no serviço público. As práticas da organização do trabalho foram tidas como "fatores", sendo selecionados com levantamento bibliográfico e análise de conteúdo e as percepções foram capturadas em entrevistas semiestruturadas atreladas a representações numéricas desses fatores.

Os dados revelaram que "fatores" como ‘equipes de trabalho/grupos de trabalho interdisciplinares’ e ‘redes’ repercutiram como boas práticas no incentivo à inovação, já a ‘autonomia do trabalho’ e a ‘flexibilidade’ ainda são emergentes, vide as iniciativas piloto de teletrabalho. A ‘Mobilidade Organizacional’ defronta com as delimitações legais que restringem essa possibilidade no serviço público brasileiro e com a permissão da chefia. E a ‘delegação da responsabilidade ou da decisão’ reflete as percepções positivas quanto ao trabalho em equipe cuja responsabilidade e e ônus são compartilhados.

Conclui-se que a ausência de recursos contribuiu para a busca de novas alternativas, mais viáveis e criativas, é um achado que indica uma tendência para inovar na administração pública. Esta pesquisa possui limitações, pois se restringe a uma segregação setorial no serviço público aos que atuam com inovações no âmbito federal e em um estado da federação, o que impossibilita realizar generalizações ao setor público como um todo. Todavia, as percepções aqui apresentadas são significativas para compreender o fenômeno analisado – práticas de organização do trabalho para a inovação.

ANTTILA, T.; OINAS, T. S.; MUSTOSMÄKI, A. Towards formalisation: the organisation of work in the public and private sectors in Nordic countries. Acta Sociologica, v. 62, n. 3, 2019. DE VRIES, H.; BEKKERS, V.; TUMMERS, L. Innovation in the public sector: a systematic review and future research agenda. Public Administration, v. 94, n. 1, p. 146-166, 2016. ISIDRO-FILHO, A. Inovação no setor público: evidências da gestão pública federal brasileira no período 1999-2014. In: CAVALCANTE, P.; CAMÕES, M.; CUNHA, B.; SEVERO, W. (Org.). Inovação no setor público. Brasília: Ipea, 2017.