Resumo

O texto apresenta resultados preliminares de investigação que busca compreender desafios enfrentados pela política de saúde relacionados à questão da comunicação. O estudo busca entender como a informação produzida pela mídia sobre o Sistema Único de Saúde impacta na construção da sua imagem. Para tanto, examina-se o enquadramento dado pela mídia ao SUS e sua operação, por meio da análise quanti e qualitativa das notícias sobre o SUS produzidas por dois veículos tradicionais (Folha de São Paulo e Estado de Minas), e de grande circulação nacional e regional, ao longo de cinco anos (2014-2019).

A percepção pública acerca da saúde no Brasil é decisiva para o processo de implementação desta política, e é amplamente impactada pelo modo como a mídia noticia o Sistema Único de Saúde (SUS). Os enquadramentos produzidos pela mídia intermedeiam o processo de difusão das ideias para o público. Buscamos então compreender como centros externos (mídia) produzem informação sobre o SUS e impactam na construção da sua imagem, realizando uma análise quanti e qualitativa das notícias produzidas sobre o SUS, por dois veículos de grande circulação, nacional e regional, ao longo de cinco anos.

Os raros estudos que buscam aprofundar o enquadramento midiático do SUS buscam caracterizar a estratégia midiática de “construção do SUS-problema” (SILVA et al, 2019). Define o SUS em si como problemático, em contraposição à defesa do SUS como um aparato governamental com problemas a serem resolvidos. Dentre as narrativas discursivas utilizadas, estão o uso da sigla “SUS” em matérias de cunho negativo; da palavra “crise”, denotando um problema sistêmico e não pontual; introdução de aspectos ruins, mesmo quando a notícia é positiva; ironização, “burocrátização" e a criminização do SUS/governo.

A estratégia metodológica principal da investigação partiu da construção de um banco de dados com as notícias sobre o SUS. Realizamos um mapeamento de todas notícias veiculadas por dois jornais escolhidos, Folha de São Paulo e Estado de Minas, no período compreendido entre 2014-2019, totalizando 520 notícias. Seu conteúdo foi analisado quantitativamente, a partir de ferramentas de estatística descritiva do programa Excel, e qualitativamente, com o apoio do software NVivo. Buscou-se investigar padrões gerais a respeito do modo como a grande mídia produz notícias sobre o SUS.

As notícias analisadas possuem um enquadramento majoritamente negativo, mas a relação entre notícias negativas e positivas variou de acordo com a temática ou segmento do SUS ao qual dizem respeito. Se a atenção primária e a gestão da política são os temas que recebem maior atenção da mídia, por um lado; por outro, a gestão é o que concentra o maior número de notícias negativas. A atenção primária é o objeto preferencial das notícias positivas e neutras. Outro tema que concentra boa parte do julgamento negativo das notícias publicadas é a atenção hospitalar e especializada, e o financiamento.

A análise evidenciou alguns padrões acerca do conteúdo das notícias que são veiculadas sobre o SUS, de modo a influenciar a formação da opinião pública negativa sobre a política de saúde. Os achados contribuem para apoiar o argumento de que a percepção negativa construída sobre o SUS está concebida a partir de bases privatistas e mercadológicas, cujo fundamento reside na atuação da mídia, por um lado. De outro, também se pode apontar para a ausência de prioridades, por parte da administração pública, da construção de uma comunicação efetivamente pública em saúde.

ARAÚJO, I. S et alii. A comunicação no Sistema Único de Saúde: cenários e tendências. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, v. 1, n. 10, 2011. KUCINSKI, B. Introdução. In: DUARTE, J. et alii (Orgs.). Comunicação pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Editora Atlas, 2007. SILVA, G. M. et al. A construção do SUS-problema no jornal Folha de S. Paulo. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 21, n. 1, p. 61–76, 2014. SILVA, A. et alii. A importância da informação em saúde para o exercício do controle social. Ciência & Saúde Coletiva. 12 (3), 2007