Resumo

Este artigo aborda o debate multiparadigmático em Estudos Organizacionais. Diante do relativismo ontológico associado a abordagens pós-paradigmáticas (Hassard & Cox, 2013), este artigo retoma a relação sujeito e objeto para discutir uma noção antropológica e de realidade. Revendo a discussão da incomensurabilidade (Burrel & Morgan, 1979) e abordagens multiparadigmáticas (Lewis & Grimes, 2007; Yang, Zang & Holzer, 2007), favoráveis ao pluralismo ou à dissolução de paradigmas, sugiro a abordagem da Redução Sociológica e a noção de homem parentético de Guerreiro Ramos (1996).

Na discussão multiparadigmática, as abordagens “pós-paradigmáticas” e paradigmas opostos ao positivista e pós-positivista são ontologicamente relativistas, referindo-se à “múltiplas realidades construídas” (Morgan, 2007; Denzin & Lincoln, 2006; Hassard & Cox, 2013). Diante dessas possibilidades e das pesquisas no contexto brasileiro, pretendo contribuir na discussão sobre os pressupostos ontológicos relacionados aos paradigmas estabelecidos por Burrell e Morgan (1979). Tal problemática decorre da consideração da Redução Sociológica (Guerreiro Ramos, 1996) como alternativa ontológica.

O artigo se fundamenta em duas partes principais: (1) discute pressupostos ontológicos a partir dos estudos de Burrell e Morgan (1979), os polos subjetivos e objetivos para abordar a natureza humana e a realidade; e avança para as propostas multiparadigmáticas (Lewis e Grimes, 2007); e (2) apresenta a Redução Sociológica de Guerreiro Ramos (1996), pressupostos filosóficos e visão da realidade, e o conceito de homem parentético (Ramos, 2001). Destaca-se a implicação recíproca do ser humano e do mundo e a consciência de que se vive a visão de mundo, por isso necessária a postura parentética.

Considerando a implicação recíproca do ser humano e do mundo, discuto que a natureza humana, segundo Burrell e Morgan (1979) está restrita à dualidade voluntarismo e determinismo, e declinada na definição desconstrutivista (Hassard & Cox, 2013). Seguindo Ramos (1989), considero que as mediações entre o homem e o seu entorno se dão por meio da tensão, pela qual alguém consegue perceber quais são os seus condicionantes internos e externos. A questão ontologia precisa ser problematizada, para tratar-se da natureza humana e da realidade e a Redução sociológica e a postura parentética podem ajudar.

Permanece o desafio de fazer pesquisas de abordagem multiparadigmática, pois partem de ontologias distintas em relação ao ser humano. O cuidado com os fundamentos ontológicos pode contribuir para o desenvolvimento de teorias organizacionais que representem a natureza humana de forma integral. Acredita-se, seguindo as premissas da redução sociológica e do homem parentético, que o critério norteador da produção científica em estudos organizacionais deva ser a realidade. E que a realidade, por assim dizer, é mais ampla do que a subentendida nos paradigmas atuais.

Burrell, G. & Morgan, G. (1979). Sociological Paradigms and Organisational Analysis. Elements of the Sociology of Corporate Life. Vermont: Ashgate, 432 p. Lewis, M. W. & Grimes, A. J. (2007). Matatriangulação: construção teórica com base em paradigmas múltiplos. In Caldas, M. P. & Bertero, C. O. (Coord). Teoria das Organizações, Série ERA- Clássicos. (pp. 34-65). São Paulo: Atlas. Ramos, A. G. (1996). A Redução Sociológica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. Ramos, A. G. (2001). Modelos de homem e teoria administrativa. Trad. Heidemann, F. Hassard, J. & Cox, J. W. (2013).