Resumo

A Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) é um movimento caracterizado como uma Rede Alimentar Alternativa (RAA), que aproxima produtores e consumidores rurais. Tal sistema se viabiliza a partir do engajamento de indivíduos, que se comprometem com a produção e recebem cotas dos alimentos. Os membros de uma CSA podem atribuir diferentes significados sobre fazer parte da comunidade, e compreender tais sentidos pode contribuir com a sustentação deste mecanismo alternativo de comercialização de alimentos.

É imperativo proporcionar, cada vez mais, um sistema alimentar resiliente, justo e equilibrado, sendo a Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) uma resposta nesse sentido. Compreender o significado de fazer parte de uma CSA é uma contribuição teórica importante para a agenda de pesquisa. E, gerencialmente, favorece o desenvolvimento prático do sistema. Com isso, o objetivo deste trabalho é analisar o significado, para agricultores e consumidores, de pertencer à Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), o que foi perseguido por meio de dois estudos empíricos complementares.

O marco teórico que orienta a pesquisa é o da cidadania alimentar, que sugere que há consumidores mais conscientes do impacto de suas escolhas. Os cidadãos alimentares se engajam, por exemplo, com Redes Alimentares Alternativas (RAA) para contribuir com uma alimentação justa e sustentável para todos. Um importante exemplo de RAA é a Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), e compreender os diferentes aspectos de uma CSA é fundamental para que esse modelo emergente de consumo sustentável se torne cada vez mais bem-sucedido.

O trabalho ocorreu em duas etapas, ambos em Brasília (DF). No Estudo 1, 15 membros de seis CSA foram entrevistados sobre “o que significa fazer parte”, e as respostas foram analisadas com o uso de técnicas de análise textual pelo software Iramuteq. No Estudo 2, via questionário aplicado com 59 consumidores de duas CSA, elencou-se os “significados de fazer parte”. Os dados foram descritos e submetidos à análise de agrupamento hierárquico aglomerativo, e os grupos foram comparados pelo teste de Kruskal-Wallis. Por fim, analisou-se os resultados dos dois estudos complementares.

Os dois estudos (E1 e E2) acessaram, de forma complementar, os significados de fazer parte de uma CSA. Um dos significados identificados foi o de Senso de Comunidade (E1) e Convivência (E2). Valorização do Agricultor (E1) também obteve destaque, com sentido próximo a Segurança e proximidade (E2) e Cidadania (E2). Ainda, a Valorização do Alimento (E1), similar à Dieta e Origem (E2), se mostraram relevantes. Por fim, observou-se as classes de Construção de Relacionamento (E1) e de Preservação do Meio Ambiente (E1), esta última relacionada também à Sustentabilidade Ambiental (E2).

Os estudos complementares permitiram a identificação e discussão de significados relacionados a fazer parte de uma CSA. O senso de comunidade, a valorização do agricultor, o acesso a um alimento saudável e o favorecimento da sustentabilidade foram percebidos como sentidos importantes para os entrevistados. Trata-se de subsídios relevantes para a formação de estratégias dentro do contexto das Redes Alimentares Alternativas (RAA), especialmente visando a atração de consumidores alinhados com o conceito de cidadania alimentar.

CAROLAN, M. More-than-Active Food Citizens: A Longitudinal and Comparative Study of Alternative and Conventional Eaters. Rural Sociology, v. 82, n. 2, p. 197–225, 2017 DE TAVERNIER, J. Food citizenship: Is there a duty for responsible consumption? Global Food Security: Ethical and Legal Challenges: EurSafe 2010 Bilbao, Spain 16-18 September 2010, p. 251–256, 2010 ESCAJEDO SAN-EPIFANIO, L. Challenging Food Governance Models: Analyzing the Food Citizen and the Emerging Food Constitutionalism from an EU Perspective. Journal of Agricultural and Environmental Ethics, v. 28, n. 3, p. 435–454, 201