Resumo

A educação empreendedora no ensino superior tem o potencial de gerar impactos que englobam desde o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e atitudes voltadas para a criação de novos negócios, até a condução de novos negócios e a geração de empregos pelos estudantes (NABI et al., 2017). Todavia, seu sucesso é constantemente questionado por acadêmicos, formuladores de políticas públicas e educadores. Muitos estudos têm examinado seus impactos. Os resultados, no entanto, são contraditórios.

O presente artigo visa responder a seguinte pergunta de pesquisa: quais são os impactos da educação empreendedora em alunos de disciplinas de empreendedorismo no nível de graduação de universidades brasileiras? Através de um trabalho empírico com 398 estudantes universitários brasileiros, endereça algumas lacunas teóricas e metodológicas dos estudos sobre a avaliação dos impactos da educação empreendedora no ensino superior brasileiro. Dentre suas contribuições estão o desenvolvimento de um modelo de análise desses impactos e a comparação dos efeitos de cursos eletivos e obrigatórios.

Segundo a Teoria do Comportamento Planejado (TCP), se as atitudes das pessoas em relação ao empreendedorismo, as normas subjetivas e a percepção do controle sobre o comportamento empreendedor são influenciadas positivamente pela educação empreendedora, suas intenções empreendedoras também se modificarão, o que, cedo ou tarde, levará ao comportamento empreendedor desejado (AJZEN, 1991). Muitos pesquisadores avaliam os impactos da educação empreendedora comparando o antes e o depois de uma intervenção educacional, tendo como base a TCP.

A pesquisa coletou dados primários por meio de questionários estruturados entre estudantes de empreendedorismo no Brasil. A metodologia adotada foi pré/pós, conforme orientação de Rideout e Gray (2013). Foram analisadas 10 disciplinas diferentes oferecidas para alunos de graduação de seis universidades brasileiras, focadas no tema empreendedorismo de forma geral. Doze professores participaram da pesquisa. Os questionários foram disponibilizados na plataforma Survey Monkey no início das disciplinas (abril/maio de 2019) e no final das disciplinas (junho/2019).

Foram realizadas análises descritivas das variáveis e dos construtos definidos após a realização de análises fatoriais exploratórias. O teste t de amostras pareadas foi usado para testar o impacto dos programas nas atitudes empreendedoras, nas normas sociais subjetivas, no controle percebido do comportamento, na autoeficácia, nas competências empreendedoras, nas intenções empreendedoras, no comportamento empreendedor nascente e no comportamento empreendedor dos alunos considerando os dois tempos de coleta.

Os benefícios da educação empreendedora no ensino superior podem ocorrer de duas formas: os alunos se tornam empregados de pequenas, médias ou grandes empresas, mas obtêm melhores desempenhos devido ao conhecimento e às competências adquiridas; e os alunos se tornam empreendedores, criando novas empresas e conduzindo-as a bons desempenhos. Nesse estudo, as disciplinas eletivas de empreendedorismo apresentaram maiores impactos positivos nos construtos analisados do que as obrigatórias, que, inclusive, impactaram negativamente alguns deles.

AJZEN, I. et al. The theory of planned behavior. Organizational behavior and human decision processes, v. 50, n. 2, p. 179-211, 1991. NABI, G. et al. The Impact of Entrepreneurship Education in Higher Education: A Systematic Review and Research Agenda. Academy of Management Learning & Education, 2017, Vol. 16, No. 2, 277-299. RIDEOUT, E.; GRAY, D. Does Entrepreneurship Education Really Work? A Review and Methodological Critique of the Empirical Literature on the Effects of University-Based Entrepreneurship Education. Journal of Small Business Management, 2013, 51(3), pp. 329-351.