Resumo

Segundo o IBGE (2012), no último censo, o Brasil possuía 23% do total de sua população de pessoas com algum tipo de deficiência. O nível de desemprego para esses indivíduos ainda é substancial, o que implica em consequências econômicas, sociais e psicológicas negativas. Tais consequências estão entrelaçadas ao sentido que o trabalho tem para os sujeitos. O sentido do trabalho ocorre mediante a compreensão da subjetividade, não sendo um processo estático, já que a absorção de elementos que se relacionam com o trabalho, ocorre em constante modificação e ressignificação (LIMA et al., 2013).

Destaca-se que os indivíduos que adquiriram alguma deficiência tendem a ser mais propensos à necessidade do trabalho. Nesse contexto, o objetivo geral deste estudo é compreender os sentidos construídos sobre o trabalho para cadeirantes com deficiência adquirida.

Tolfo e Piccinini (2007, p. 45) afirmam que: “os sentidos e significados do trabalho são um construto psicológico, considerado multidimensional e dinâmico, decorrente da interação de variáveis pessoais e sociais relacionadas ao trabalho”. O trabalho é um componente importante para subjetividade do PCD, ofertando resiliência, prazer em razão do alcance de recompensas sociais e pessoais, e também a sensação de dignidade reconhecida socialmente, porém pode ser gerador de sofrimento em razão de eventos de desvalorização, demandas desproporcionais e falta de reconhecimento (SILVA; RIBEIRO, 2011).

Optou-se por utilizar a metodologia qualitativa, que perante os múltiplos significados, crenças, valores e atitudes, viabiliza a assimilação dos processos e fenômenos, entendendo a subjetividade dos indivíduos pesquisados e versando sobre dimensões que não podem ser quantificadas (MINAYO et al., 1994). Foram realizadas sete entrevistas em profundidade, que tiveram duração média de 40 minutos e foram guiadas a partir de um roteiro semiestruturado. As conversas foram transcritas na íntegra, e analisadas por meio da análise de conteúdo (BARDIN, 2006).

Por meio da análise de conteúdo, foi possível agrupar os sentidos relacionados ao trabalho para cadeirantes com lesão medular. Sendo a priori, a partir de Morin (2001): (1) Garantia de Segurança, Independência e Autonomia; (2) Fonte de Satisfação; (3) Eficiência e Condução de Resultados; (4) Manutenção da Ocupação e Sentimento de Utilidade; (5) Construção de Relações Sociais Positivas; (6) Moralmente aceitável e Contribuição Social; e a posteriori a partir dos dados: (7) Ocupação de Espaços e Representatividade Social; (8) Negação do estigma de incapacidade e (9) Inclusão Efetiva.

Mediante às análises, identificamos que as percepções sobre o sentido do trabalho são múltiplas e entendemos a relevância do trabalho para os participantes. Essa importância não está ancorada apenas no caráter instrumental, mesmo que esse tenha forte influência. Mas também em termos mais subjetivos, como questões de ocupação de espaços, de utilidade social, de quebra do capacitismo. E também no desejo de reforçar a utilidade que o cadeirante ainda possui, mesmo com as limitações adquiridas com a lesão. Reforçando a necessidade de inclusão de PCDs, para além do cumprimento das leis de cotas.

GALVAO, M. F. G; LEMOS, A. H. C.; CAVAZOTTE, F. S. C. N. Revisitando o tradicional: o significado do trabalho para pessoas com deficiências adquiridas. Rev. Adm. Mackenzie , São Paulo, v. 19, 2018. LEIULFSRUD, A. S. et al. The meaning of employment from the perspective of persons with spinal cord injuries in six European countries. Work, v. 55, n. 1, p. 133-144, 2016. LIMA, M. P. T.et al. O sentido do trabalho para pessoas com deficiência., Rev. Adm. Mackenzie. v.14, n. 2, p. 42-68, 2013. MORIN, E. Os sentidos do trabalho. Revista de Administração de Empresas, v. 41, n. 3, p. 8-19, 2001.