Resumo

Este trabalho está inserido no contexto de combate à pandemia causada pela doença infecciosa transmitida pelo SARS-CoV-2 instaurada no mundo e no Brasil. Especialmente medidas de gestão em saúde são debatidas e colocadas em prática. Pela gestão, perpassam questões referentes aos desejos, interesses dos sujeitos envolvidos, saberes inseridos nos processos de trabalho e o próprio poder inerente ao cargo ocupado pelo representante eleito chefe do Poder Executivo. Os discursos por meio dos pronunciamentos oficiais, foram o principal meio de comunicação entre os líderes mundiais e os cidadãos.

O problema que norteia esse trabalho é: Qual a relação entre os discursos políticos e a gestão em saúde no contexto da Covid-19 no Brasil? Intenta-se pesquisar o discurso do chefe do poder executivo de três estados brasileiros - Minas Gerais, Amazonas e Ceará - com a intenção de perceber se, de fato, no interior das práticas discursivas as palavras apontam para ações e programas que se concretizam, ou, pelo contrário, se o discurso das autoridades não encontra correspondência nas ações planejadas e executadas.

Teoria da Construção do Discurso de Aristóteles e a Teoria da Legitimidade Weberiana. Para (Aristóteles 2015, 1355a) a construção de um argumento discursivo depende de um comando para uma ação. Em (Weber 2015), política seria a direção ou a influência exercida sobre a direção de uma associação política, o que hoje se refere à Estado. O Estado por sua vez representa o locus de dominação (poder) de homens sobre homens apoiada sobre uma legitimidade. Essa legitimidade, de acordo com (Weber 1982) pode ser carismática, tradicional ou legal. O discurso é o fator comum em todas elas.

Os dados compreendem os discursos e os decretos dos governadores de MG, CE e AM na pandemia. Critérios para a escolha dos estados: número de infectados proporcionalmente ao número de habitantes; estados de regiões diferentes e estados com um número de discursos considerável. A abordagem é qualitativa, foi realizada a análise lexográfica dos discursos e traçada a relação entre os discursos e as categorias de análise estabelecidas por meio da técnica de análise de conteúdo categorial (pathos - legitimidade tradicional; ethos - legitimidade carismática e logos - legitimidade burocrática).

Os discursos evidenciaram que o governador de MG foi o que mais se destacou na gestão burocrática, explorando estratégias discursivas que legitimassem a sua tomada de decisão, a maioria no campo da saúde. O governador do CE foi o que menos explorou o logos focado na saúde, existe uma preocupação com a gestão do comércio no estado, o que fica evidente nos discursos e na quantidade de decretos sobre essa temática. O governador do AM foi o que mais representou seus sentimentos usando essa estratégia para explicar a dinâmica da doença no estado e com isso legitimar a tomada de decisão.

O esforço desse trabalho é unir diferentes perspectivas teóricas Teoria da Construção do Discurso de Aristóteles e Teoria da Legitimidade Weberiana com a análise empírica (discursos políticos na pandemia). Os políticos (governadores) em seus discursos inseridos no locus discursivo (Estado) por meio das diferentes legitimidades (tradicional, carismática e burocrática) usam de distintas práticas (ethos, pathos e logos) às quais podem ou não se relacionar com a tomada de decisão em gestão. Assim, todos os discursos dos governadores (MG, CE e AM) presentaram alguma relação com a tomada de decisão.

Aristóteles. Retórica. Trad. Manual Alexandre Júnio et alli. São Paulo: Folha de São Paulo, 2015. Grondin, Jean.1999. Introdução à Hermenêutica Filosófica. Trad. Benno Dischinger. São Leopoldo: Unisinos. Jaeger, Wener. 1986. Paidéia. A formação do homem grego. Trad. Arthur M. Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 246-255. Weber, Max. 2015. Ciência e política: duas vocações. Trad. Marco Antônio Casanova. São Paulo: Martin Claret. Weber, Max.1892. Ensaios de sociologia. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: LTC.