Resumo

O comércio varejista é atravessado por aspectos socioeconômicos, culturais, tecnológicos e legalistas, configurando-se como um dos segmentos mais importante da economia brasileira e impactando cerca de 47,4% do PIB brasileiro (SOCIEDADE BRASILEIRA DE VAREJO E CONSUMO, 2018). Ademais, encara desafios como alto índice de turnover, relacionado a diversos fatores, como o trabalho nos finais de semana, salários reduzidos e pouco investimento na formação dos trabalhadores (PINHO, JEUNON; DUARTE, 2016).

A literatura aponta que ainda existem lacunas de pesquisa importantes no campo do comprometimento organizacional, tais como estudos fora do universo anglo-saxônico e que investiguem consequentes (COSTAS; BASTOS, 2014; WASTI; ONDER 2009; WASTI, 2016). O objetivo principal foi investigar como as práticas de gestão de pessoas influenciam no comprometimento organizacional, e de que maneira os consequentes, a intenção de rotatividade e a satisfação no trabalho se comportam em função dessa relação, tendo como campo de pesquisa organizações privadas inseridas no comércio varejista.

O comprometimento organizacional é uma ligação, de caráter psicológico, entre o trabalhador e organização (MEYER, 2009). Demo et al. (2013) apresentaram um conjunto de políticas e práticas de gestão de pessoas: recrutamento e seleção; envolvimento; treinamento, desenvolvimento e educação; condições de trabalho; avaliação de desempenho e competências; remuneração e recompensas. Siqueira (2014) aponta as seguintes dimensões da satisfação: com salário, colegas de trabalho, chefia, promoções e natureza do trabalho. A intenção de rotatividade é ato de se desligar voluntariamente da organização.

Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa de caráter quantitativo do tipo survey, descritivo e explicativo. A população foi composta por trabalhadores provenientes de organizações privadas brasileiras, pertencentes ao comércio varejista, no município de Fortaleza/CE. Foram utilizadas quatro escalas para a avaliação dos construtos da pesquisa.

As práticas Recrutamento e Seleção (RS); Remuneração e Recompensas (RR); Treinamento, Desenvolvimento e Educação (TDE); e Envolvimento (Env) atuaram como preditoras do comprometimento organizacional, experimentado como Obrigação por Dívida (OPD) ou como Dever Moral (DM) de carga negativa, no contexto pesquisado. O comprometimento atuou também como preditor da satisfação no trabalho e da intenção de rotatividade.

Os resultados obtidos, primeiro, reforçam o modelo tridimensional de estudo do comprometimento organizacional, além de contribuírem para o entendimento das bases normativa e de continuação, menos pesquisadas que a base afetiva. Houve destaque especial à base normativa, dado que, a partir das análises fatoriais, chegou-se a uma face dual do comprometimento normativo, o que está em consonância com outros estudos que também discutiram essa face da base normativa do comprometimento (GELLATLY et al., 2006; MEYER; PARFYONOVA, 2010).

DEMO, Gisela et al. Políticas de gestão de pessoas no novo milênio: cenário dos estudos publicados nos periódicos da área de administração entre 2000 e 2010. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 12, n. 5, p. 15-42, set./out. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ram/v12n5/a02v12n5.pdf. Acesso em: 20 jul. 2019. MEYER, J. P.; PARFYONOVA, N. M. Normative commitment in the workplace: a theoretical analysis and re-conceptualization. Human resource management review, [S.l.], v. 20, n. 4, p. 283-294, 2010. DOI: https://doi.org/10.1016/j.hrmr.2009.09.001.