Resumo

O isolamento territorial das colônias fez os imigrantes se apegarem aos seus saberes e formar grupos que buscam reproduzir suas tradições culturais, com destaque para a cerveja. Ressalta-se que a organização produtiva cervejeira familiar representa uma situação de apego e resistência no Rio Grande do Sul criada pelos imigrantes alemães. Logo, a cerveja desenvolve no imaginário deste grupo um vínculo com outro espaço e tempo, construindo uma ressignificação do seu próprio ser, e, até mesmo, uma reafirmação da identidade em um processo de reconstrução simbólica e cultural das suas origens.

O objetivo deste artigo é analisar o processo de gestão e as evidências de memória organizacional em cervejarias pertencentes à Rota das Cervejarias Artesanais no estado do Rio Grande do Sul. Tais evidências representam não só o início da história das cervejarias, mas também servem como referência para manutenção dos valores do presente e para projeção do seu futuro.

Bernhoeft e Gallo (2003) apresentam características da memória organizacional na valorização da história de empresas familiares: tempo de serviço; os laços afetivos; valorização da confiança; e, a expectativa de que os funcionários sejam altamente dedicados e fiéis à organização e seus valores. Para Alstete e Meyer (2020) a memória organizacional está relacionada ao conjunto de lembranças e interpretações compartilhadas, facultando o aumento da competitividade, por meio da reutilização de conhecimentos.

Os dados empíricos foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com profissionais de empresas produtoras de cerveja artesanal, como mestres cervejeiros e sommeliers. A pesquisa foi complementada com a observação não participante in loco. Os dados empíricos foram submetidos à análise de conteúdo, no sentido de evidenciar como ocorre a Gestão e as particularidades referentes à memória organizacional das referidas empresas.

Como principais resultados, destaca-se que em termos de gestão, o padrão mais observado é aquele em que a sociedade é composta pelos membros de família ou por indivíduos de elevado grau de afetividade e confiança mútua. Em termos de memória organizacional, constatou-se relatos que envolvem aspectos familiares, histórias que contemplam a abertura do negócio e o lançamento de produtos que são comercializados até hoje. Destaque também para mascotes e símbolos que compõem as logomarcas estampadas nos rótulos, ou até mesmo para palavras consideradas “chave” e que dão nome ao estabelecimento.

Pode-se dizer que o modelo paternalístico é o mais presente na gestão das cervejarias artesanais estudadas, afinal, desde a fundação dos negócios, a administração segue centralizada em integrantes da família. Ademais, foram identificadas evidências de memória organizacional, representando não só o início da história das cervejarias, mas servindo, também, como referência para manutenção dos valores do presente e para projeção de estratégias futuras.

ALSTETE, Jeffrey W.; MEYER, John P. Intelligent agent-assisted organizational memory in knowledge management systems. VINE Journal of Information and Knowledge Management Systems, 2020. BERNHOEFT, Renato; GALLO, Miguel. Governança na empresa familiar: gestão, poder e sucesso. Elsevier Brasil, 2003.