Resumo

A Covid-19 trouxe uma experiência global compartilhada em um momento decisivo para a história da humanidade e o que se segue a partir de agora é um período de reflexão em que pessoas não estão pensando em retornar ao mundo que tinham, mas sim em criar e avançar para o mundo que desejam. Com isso, a pandemia tornou mais claro do que nunca que governos e organizações devem mudar radicalmente (Moritz, 2020). O impacto da Covid-19 é bastante diferente nos diversos tipos de negócios e sistemas de gestão existentes, o varejo, sobretudo, é um dos segmentos mais impactados.

Este estudo foi realizado na abordagem da Estratégia como Prática Social (SAP), no nível micro de análise. Como problema de pesquisa o estudo procurou responder: como o discurso da diretoria comercial (prática) permeia o modo de agir (práxis) dos indivíduos comerciais (praticantes) de uma organização comercial? O objetivo principal foi entender como o discurso da diretoria permeia as ações da rede interna de relações e como os indivíduos comerciais agem e deixam de agir (strategizing) por meio das influências.

Segundo Reckwitz (2002), a teoria da Estratégia como Prática Social (SAP) é apresentada como uma alternativa conceitual a outras formas de teoria social e cultural. Jarzabkowski e Paul Spee (2009) relatam que a perspectiva de estratégia como prática foi definida como uma atividade socialmente realizada, enquanto a estratégia compreende as ações, interações e negociações de múltiplos atores e as práticas situadas que eles utilizam para realizar essa atividade. A “prática”, segundo Vaara e Whittington (2012), está relacionada a uma tentativa de se entender o mundo dos praticantes.

Pode-se afirmar, com o estudo, que as definições estratégicas organizacionais hierárquicas são importantes para a execução das estratégias, mas que a comunicação, o entendimento e o perfil social dos praticantes fazem com que a prática estratégica seja diferente do definido. Confirmou-se ainda que cada vez mais que estudos da estratégia como prática indicam que gerentes de nível médio e funcionários de nível inferior também são atores estratégicos importantes influenciando diretamente nas estratégias organizacionais.

Os resultados apontaram que mesmo definições estratégicas sendo definidas pela organização hierarquicamente, os praticantes as modificam e as executam de acordo com sua forma de pensar a partir de hábitos e necessidades cotidianas, principalmente em épocas de rápidas mudanças como a atual. A dificuldade de comunicação estratégica de forma mais clara e objetiva, a falta de entendimento das estratégias pelos praticantes, a velocidade de transformações no ambiente externo e o volume de informações cotidianas do segmento influenciam diretamente na execução estratégica.

Jarzabkowski, P., Balogun, J. & Seidl, D. (2007). Strategizing: The challenges of a practice Perspective. Human Relations, 60(1), 5–27 Seidl, D., & Whittington, R. (2014). Enlarging the strategy-as-practice research agenda: Towards taller and flatter ontologies. Organization Studies, 35(10), 1407-1421. Vaara, E., & Whittington, R. (2012). Strategy-as-practice: Taking social practices seriously. Academy of Management Annals, 6(1), 285-336. Whittington, R. (1996). Strategy as practice. Long Range Planning, 29(5), 731-735.