Resumo

Após a identificação de 27 casos de infecções respiratórias na China, o vírus COVID-19 foi identificado em janeiro de 2020 pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Com a propagação do vírus para outros países a OMS declarou uma emergência de saúde pública. As medidas recomendadas para contenção do vírus podem ser complicadas para países economicamente vulneráveis, pois podem não suportar períodos longos de distanciamento social e não ter acesso à higiene básica. Em países pobres, o ônus das doenças transmissíveis é mais alto.

Este trabalho tem como objetivo verificar se países com melhores condições econômicas tiveram, até o momento, mais sucesso na contenção do COVID-19. Diferentemente da maior parte dos estudos relacionados ao vírus, que focam nos fatores biológicos que o potencializam, este estudo propõe uma abordagem para explorar os fatores estruturais do contágio e da mortalidade do COVID-19. A contribuição do estudo reside em fornecer aos líderes políticos informações relacionadas ao comportamento de contágio dos diferentes países, tornando a tomada de decisão mais embasada.

A maior parte dos trabalhos publicados sobre o COVID-19 foca em estudar as causas e tratamentos do vírus (SHIM et al., 2020). Estudos que relacionam o contágio do vírus à impactos econômicos são muito recentes, e a maior parte estuda os impactos do COVID-19 na economia (SHANAEV; SHURAEVA; GHIMIRE, 2020). Apenas um estudo na França identificou que bairros mais pobres e com estrutura de habitação mais precária apresentaram excesso de mortalidade durante a pandemia (GOUTTE; PERAN; PORCHER, 2020).

O método de pesquisa para se responder o objetivo de verificar se países com melhores condições econômicas tiveram mais sucesso na contenção do COVID-19 possui quatro passos: Definição das variáveis macroeconômicas a serem consideradas; obtenção da base de dados (Wordometer and The World Bank); análise de cluster considerando as variáveis relacionadas ao COVID-19, com objetivo de agrupar os países que possuem comportamentos de contaminação semelhantes; modelo de regressão logística, com objetivo de verificar se as variáveis macroeconômicas dos países possuem relação com o Cluster COVID-19.

Foram criados quatro clusters com base no número de casos, mortes e testes por milhão de habitantes do COVID-19. O cluster 1 apresenta o menor número de casos, o cluster 2 apresenta o maior número de mortes, o cluster 3 apresenta o maior número de casos, porém poucas mortes dada a grande quantidade de testes e o cluster 4 apresenta o maior número de testes. No modelo de Regressão Logística apenas a variável renda dos trabalhadores foi estatisticamente significativa com sinal negativo, indicando que a contaminação do vírus teve maiores danos em regiões de menor renda.

O trabalho identificou quatro grupos de países, cada um com uma característica de contágio diferente. O Brasil está agrupado com outros 19 países, como Estados Unidos e Espanha, no grupo que apresentou maior número de mortes por milhão de habitantes. Além disso, foi possível identificar que países com menor renda dos trabalhadores apresentaram piores desempenhos relacionados ao COVID-19 por acesso mais precário à saúde e a dificuldade de se realizar distanciamento social devido à natureza e dependência dos empregos, resultados também encontrados na França (GOUTTE; PERAN; PORCHER, 2020).

GOUTTE, S.; PERAN, T.; PORCHER, T. The role of economic structural factors in determining pandemic mortality rates: Evidence from the COVID-19 outbreak in France. Research in International Business and Finance, v. In Press, 2020. SHANAEV, S.; SHURAEVA, A.; GHIMIRE, B. The Financial Pandemic: COVID-19 and Policy Interventions on Rational and Irrational Markets. SSRN Electronic Journal, n. April, 2020. SHIM, E. et al. Transmission potential and severity of COVID-19 in South Korea. International Journal of Infectious Diseases, 2020.