Resumo

O trabalho debruça-se sobre a presença da hospitalidade na poesia da Cora Coralina, que tem seu nome homenageado em uma rota turística no estado de Goiás. Tem-se como objeto o poema “Ô de casa!”, escolhido por retratar os laços da poetisa com sua cidade natal, com os tipos sociais que estão em sua memória, bem como os costumes e valores socialmente compartilhados dos quais a autora se apropria para construir sua versão de mundo e de si mesma. Caráter predominantemente autobiográfico, característico de suas obras, a poetisa cita a lei da hospitalidade, o que reforça a análise.

Pesquisa exploratória e qualitativa, desenvolvida mediante análise de conteúdo ao responder o problema: Quais noções do acolhimento como uma dimensão da hospitalidade são perceptíveis no poema “Ô de Casa!” de Cora Coralina? Objetiva investigar a hospitalidade nas relações entre anfitrião e viajante, considerando o acolhimento como uma das suas dimensões e também: a) explorar as atividades de acolhimento no envolvimento interpessoal pautado na simplicidade e na confiança; b) compreender a noção da dádiva nas manifestações de acolhimentos; c) identificar categorias de análise da hospitalidade.

A acolhida se alinha ao pensamento de estudiosos, que tratam das relações entre acolhido e acolhedor, no âmbito de deveres e riscos, bases, alteridade, encontro interpessoal e sensibilização (MONTANDON, 2016). Reforça-se a instalação da hospitalidade no espaço (GRINOVER, 2006) em um movimento alternado de papéis, onde há um pacto, troca (CAMARGO, 2015) e lei da hospitalidade (PITT-RIVERS, 2012). Entrelaçam-se as noções de dádiva, laço social, vínculos e contradádivas (GOUDBOUT, 1999).

Discorre-se sobre a poetisa Cora Coralina síntese de dados biográfico. Analisadas as cinco partes do poema na ótica da hospitalidade entrelaçada às noções de dádiva: Chegada e a solicitação de estada; Acolhida; Descanso dos viajantes; Alimento dos animais e Despedida. Constata-se o cotidiano da vida do avô de Cora e a simplicidade dos seus gestos; convivialidade na oferta de acomodação, alimentação, abrigo e segurança. O elemento humanizador no acolhimento a prestação e manifestações da hospitalidade com a produção de um sentimento de amizade entre os envolvidos.

A hospitalidade é definida pela combinação de vários elementos. Prova disso é que, para Cora Coralina suas memórias colocadas no poema comungam com a recepção ao viajante, o acolhimento, a circularidade da dádiva, a solidariedade, preconizando o respeito, tolerância, a convivência, em um sentido também simbólico de sua história de vida e obra. Na simbologia do poema vê-se diversos sentidos de realidade vivida em sua infância na casa do avô, com destaque para elementos de acolhida ao viajante, comensalidade e lei da hospitalidade. Resultados indicam categorias representativas da hospitalidade.

CAMARGO, L. O. L. Os interstícios da Hospitalidade. Rev. Hospitalidade. São Paulo, v. XII, p. 42-69, mai. 2015. GODBOUT, J. O espírito da dádiva. Rio Janeiro: FGV, 1999. GRINOVER, L. A hospitalidade urbana: acessibilidade, legibilidade e identidade. Rev. Hospitalidade, São Paulo, ano III, n. 2, p. 29-50, 2. sem. 2006. MONTANDON, A. A difícil e necessária dádiva da reciprocidade. [Entrevista concedida] Marcia Junges. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, ed. 499, dez, 2016. PITT-RIVERS, J. The Law of Hospitality. HAU: Journal od Ethnographic Theory, 2(1), 501-517, 2021.