Resumo

A industrialização do Brasil mostra importantes transições socioeconômicas e profundas implicações sobre o território. A produção industrial, antes concentrada na região Sudeste, se expande para outras regiões do país. É na região metropolitana de Fortaleza, mais especificamente, no município de Maracanaú, onde se instala o primeiro Distrito Industrial do Ceará. A chegada da indústria também atraiu o crescimento populacional da região, impulsionado pela construção de conjuntos habitacionais, muitos deles distribuídos no entorno do distrito, fortalecendo as tensões pelo espaço.

Busca-se, por meio desta pesquisa, responder ao seguinte problema: qual o entendimento das empresas e instituições sobre a ocupação urbana no Distrito Industrial de Fortaleza? Em que sentido elas se articulam ou se relacionam para solução desse problema? O objetivo do estudo é, portanto, investigar quais são as percepções das empresas e instituições no que tange a ocupação do espaço industrial em Maracanaú por comunidades e que atitudes e articulações são realizadas nesse sentido.

Os parques industriais assumem um insubstituível papel nas estratégias de desenvolvimento nacional de muitos países, contudo, são conhecidos por agravar problemas ambientais como a poluição, riscos relacionados a acidentes industriais e problemas ligados a saúde de comunidades locais (GENG; HENGXIN, 2009). O conceito de RSC política, por sua vez, envolve atividades das firmas que as transformam em atores políticos, envolvendo-se em deliberações públicas e decisões coletivas nos casos em que as autoridades competentes são incapazes ou não querem desempenhar o seu papel (SCHERER et al., 2016).

Através de uma pesquisa de campo, foram realizadas sete entrevistas com gestores de grandes indústrias e outras duas com líderes em instituições da sociedade civil do distrito industrial I de Fortaleza. O instrumento utilizado foi um roteiro de entrevista semi estruturado, que levou em consideração tópicos como a presença das comunidades dividindo território com as empresas e o papel dos diversos atores na solução dessa problemática, procurando entender quais relações estão presentes entre elas e a predominância ou não de comunicação, confiança e engajamento.

O aspecto de relacionamento entre as indústrias é necessário para mobilizações em torno de causas sociais pelas quais a fragilidade institucional dos contextos locais não se interessam (WADDOCK; SMITH, 2000). Os achados sugerem ausência de confiança, fraca comunicação e baixo engajamento. Esse cenário de fragilidade das relações se torna incoerente com o tipo de comunicação que deve haver entre os atores que compõe um distrito industrial, no qual as inter-relações sociais, políticas e econômicas contribuem para a fluidez e busca por soluções conjuntas (SCHMITZ; NADVI, 1999).

A partir da discussão proposta é possível descrever um cenário prévio acerca da preocupação das indústrias sobre a regulação do espaço em Maracanaú, diante da proximidade das comunidades, e de que forma essas demandas se apresentam entre elas e quais ações de desenvolvem nesse sentido. Os resultados demonstram que as empresas e instituições atribuem ao Estado a competência pelo controle do espaço e limitam-se a levar essas queixas a instituições que representam o setor, transferindo assim a responsabilidade a terceiros. O desafio é de se relacionar com confiança, comunicação e engajamento.

GENG, Y.; HENGXIN, Z. Industrial park management in the Chinese environment. J. Of Cleaner Production, v. 17, n. 14, p.1289-1294, 2009. SCHERER, A. G. et al. Managing for Political Corporate Social Responsibility: New Challenges and Directions for PCSR 2.0. J. Of Management Studies, v. 53, n. 3, p.273-298, 2016. SCHMITZ, H.; NADVI, K. Clustering and industrialization: introduction. World Development, Oxford, v. 27, n. 9, p. 1503-1514, 1999. WADDOCK, Sandra; SMITH, Neil. Relationships: The Real Challenge of Corporate Global Citizenship. Business And Society Review, v. 105, n. 1, p.47-62, 20