Resumo

O cinema é considerado como lazer, porém nem todas as pessoas têm acesso ao mesmo, podendo se configurar como um cenário de atuação para a Transformative Consumer Research (TCR). Contribuindo para o bem-estar dos indivíduos, uma vez que se torna uma experiência de entretenimento responsável por despertar emoções e motivar um sentimento de identidade entre o espectador e o filme (LIMA, 2004; AURIER; GUINTCHEVA, 2015).

Neste artigo, foram empreendidos esforços para analisar como o consumo de filmes em cinema, vivenciado pelos consumidores que não tem acesso em sua cidade às salas de cinema, pode influenciar o bem-estar e a qualidade de vida. Para isso, como fundo teórico, foi utilizada a TCR e como contexto de pesquisa o festival de cinema Cine Sesi Cultural.

A Transformative Consumer Research (TCR), ou Pesquisa Transformativa do Consumidor é um movimento que emergiu a partir de pesquisadores da Association for Consumer Research (ACR), com o objetivo de dedicar-se à compreensão dos efeitos do consumo na melhoria do bem-estar do consumidor, voltando-se especialmente, à problemas ou situações práticas de consumo (MICK et al., 2012; PIACENTINI et al., 2012). O interesse em questões e estudos com foco em TCR tem crescido, fomentando o desenvolvimento dessa subárea de pesquisa do comportamento do consumidor (OZANNE et al., 2011).

Neste estudo adotou-se uma abordagem qualitativa, de caráter interpretativo, buscando verificar a experiência dos consumidores à falta de acesso ao cinema. Realizou-se nove entrevistas com pessoas que estavam assistindo a esta programação, entre os dias 05 e 06 de maio de 2017. Utilizou-se a análise de discurso, que é um método adequado para a realização de análises ligadas à comunicação, visto que auxilia na compreensão das experiências vivenciadas a partir da interpretação dos discursos dos próprios sujeitos acerca das suas vivências (GODOI; BANDEIRA-DE-MELLO: SILVA, 2006).

Percebe-se que o problema do consumo não se caracterizava pela ausência de questões financeiras, mas como ela afirma através da seleção lexical “não frequentava por uma questão cultural”, isto é, pelo contexto socioculturais, situacional do problema ou, até mesmo, de oportunidade como defende Mick et al. (2012). A falta de acesso ao cinema é o maior obstáculo em relação ao consumo. Mick et al. (2012) e Piacentini et al. (2012) corroboram com isso ao explicitarem que são questões práticas, neste caso, acesso ao cinema, que impossibilitam o consumo.

Observou-se que o consumo de lazer, a saber consumo de filmes, influencia de forma positiva o bem-estar e a qualidade de vida dos consumidores que não tem acesso ao cinema em suas cidades. As evidências para esta afirmação são reforçadas pelos depoimentos dos nove entrevistados que de forma consensual concordaram do impacto positivo do cinema como símbolo (cinema como filme) e o objeto (cinema como lugar).

MICK, D G; PETTIGREW, S.; PECHMANN, C.; OZANNE, J. Transformative Consumer Research: for personal and collective well-being. New York: Routledge, 2012. PAIVA JUNIOR, F. G..; GUERRA, J. R. F.; ALMEIDA, S. L. A Dimensão Pública da Ação do Empreendedor Cultural na Produção de Cinema. Cadernos de Estudos Sociais, v. 27, n. 1, p. 155-170, 2012. PIACENTINI, M.; BANISTER, E.; SALCIUVIENE, L.; KEELING, K. Emerging issues in transformative consumer research and social marketing: an introduction to the special issue. Journal of Consumer Behaviour. v. 1, n. 1 p. 273-274, 2012.