Resumo

A satisfação no trabalho possui uma variedade de definições, portanto há um relativo consenso acerca de sua natureza multifatorial (Ferreira & Siqueira, 2005). É possível estabelecer uma correlação inversa dessa satisfação com a intenção de turnover, constituindo um importante preditor para a saída de colaboradores (Mudor & Tookson, 2011). Assim, este trabalho pretende contribuir, sob uma ótica qualitativa, com os estudos destinados a identificar os principais fatores que envolvem a satisfação no trabalho utilizando o método da saturação teórica dentro de uma organização pública brasileira.

O presente estudo investigou os níveis e fatores de satisfação no trabalho e sua possível relação com a redução do alto índice de evasão observado em períodos anteriores. Assim, foi objetivo da pesquisa analisar os fatores que geram satisfação com o trabalho, considerando as categorias de análise: (a) satisfação com a natureza do trabalho; (b) satisfação com salário; (c) satisfação com os colegas; (d) satisfação com os gerentes; e (e) satisfação com o sistema de promoções (Tamayo, 1998).

A Escala de Satisfação no Trabalho – EST, desenvolvida e validada no Brasil, com caráter preponderantemente quantitativo, conforme Siqueira (2003), é também mencionada por Tamayo (1998) como uma das bases para seus estudos sobre valores organizacionais, constituindo fatores da satisfação no trabalho. Já a rotatividade pode ser definida como a probabilidade do indivíduo de deixar a organização em algum momento futuro (Vandenberg, 1999). Nesse contexto, a satisfação no trabalho foi considerada como antecedente direto da intenção de turnover, com existência de correlação negativa.

Para investigar se a redução da rotatividade relaciona-se com a satisfação dos indivíduos no trabalho, optou-se por uma pesquisa de abordagem qualitativa, com ênfase na compreensão do fenômeno. Assim, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com utilização do método de saturação teórica, o qual, segundo Thiry-Cherques (2009), consiste em um critério que permite estabelecer a validade de um conjunto de observações, designando o momento em que o acréscimo de dados em uma pesquisa não altera a compreensão do fenômeno estudado.

Para as categorias definidas ex ante, a saturação teórica deu-se a partir do 13º. Entrevistado. Foram identificados três fatores de satisfação além dos indicados no marco teórico, categorizados como: estrutura, prerrogativas e desempenho no trabalho. Observou-se que os fatores relacionados à natureza de trabalho e ao relacionamento com colegas, somados à percepção de que desempenha o trabalho com qualidade e com as prerrogativas do cargo, preponderam em relação às dificuldades enfrentadas com estrutura, organização e carga de trabalho. Portanto, foi identificado um alto nível de satisfação.

Foi possível verificar que os fatores vivenciados pelos entrevistados são fonte de influência positiva ou negativa na satisfação com o trabalho e que consideram haver reflexos emocionais em decorrência desses níveis de satisfação. Tal percepção, no caso dos entrevistados, vem sendo relevante para a permanência na carreira e/ou na lotação atual. Assim, os resultados corroboram a literatura no que se refere à existência de altas correlações entre turnover e intenção de turnover (correlação positiva) e entre a satisfação no trabalho e a intenção de turnover (correlação negativa).

Siqueira, M. M. M. (2003). Proposição e análise de um modelo para comportamentos de cidadania organizacional. Revista de Administração Contemporânea [Edição especial], 7, 165-184. Tamayo, A. (1998). Valores organizacionais: sua relação com satisfação no trabalho, cidadania organizacional e comprometimento afetivo. Revista de Administração de Empresas. São Paulo. Universidade de São Paulo, v. 33, n. 3, p. 56-63. Thiry-Cherques, H. R. (2009). Saturação em pesquisa qualitativa: estimativa empírica de dimensionamento. Revista PMKT, n. 3.