Resumo

O processo de (des/re) construção de sentido ainda é pouco compreendido em termos de suas dinâmicas sensíveis. Cunliffe e Coupland (2012) e Brown, Colville e Pye (2015) argumentaram que a preferência por pesquisas instrumentais justificaria a carência de investigações sobre a dinâmica do sentido. Weick, Sutcliffe e Obstfeld (2005) também argumentaram que essa dinâmica se tornou central e enredada em nossas concepções, sugerindo a necessidade do desenvolvimento de análises que permitam seu entendimento sistemático. Sendo assim, buscou-se consolidar os estudos sobre as temáticas propostas

O que sabemos sobre a dinâmica do sentido? Como se dá o encontro entre as temáticas do sentido e da liderança? Quais perspectivas epistemológicas estão por trás do campo de pesquisa comum à essas temáticas? Quais são oportunidades de pesquisa que ainda existem para seus estudiosos? Considerando a importância da liderança, essa revisão de literatura procurou endereçar essas e outras questões à luz das principais contribuições que esse encontro pode oferecer para o avanço de ambas as temáticas, possibilitando uma estrutura integrativa para abordagem de temas dinâmicos e sensíveis.

A dinâmica do sentido é fortemente associada à pesquisa interpretativa, construcionista social, processual e fenomenológica; atraindo a atenção de estudiosos que buscam compreender como os sujeitos se apropriam, interpretam e ordenam a realidade social. Sendo assim, a fundamentação teórica desta pesquisa está dividida em duas subseções: na primeira, as relações entre as temáticas propostas, destacando que a ênfase no sentido direciona a atenção para o papel da comunicação na liderança. Na segunda, a dinâmica do sentido, definindo os conceitos de sensebreaking, sensegiving e sensemaking.

Optou-se por uma pesquisa qualitativa com o objetivo de realizar uma análise narrativo-literária do campo de pesquisa comum às temáticas de liderança, sensebreaking, sensegiving e sensemaking nos últimos 6 anos, na área de Administração. A pesquisa foi realizada através de duas bases de dados e sua análise foi realizada a partir de artigos, revisões de literatura, trabalhos apresentados em conferências e material editorial de diversos periódicos internacionais, no período de 2012 a 2017. No total foram analisadas 110 publicações.

A análise narrativa da literatura foi dividida em três questões que visam apresentar uma revisão dos principais pontos nodais do problema do sentido nas organizações: dar sentido à quê? Por quê dar sentido? Quem dará sentido? O itinerário das questões propostas acompanhou as indicações que remetem a essas temáticas dentro do âmbito da filosofia contemporânea, onde duas correntes se destacam: a análise intencional (fenomenologia) e a análise lógica (filosofia analítica). Esse itinerário se justifica na escolha majoritária por essas perspectivas epistemológicas nos documentos publicados.

Conclui-se que duas perspectivas epistemológicas parecem ter influenciado a concepção de como se dá a dinâmica do sentido nas organizações, o entendimento de qual seria o problema do sentido e o entendimento de quem seria o responsável por dar sentido às experiências interacionais. Como sugestão para pesquisas futuras, parece oportuna a realização de pesquisas sobre os interesses de investigação mais recorrentes dentre as temáticas propostas. Sugerimos, também a realização de pesquisas a partir da saída do círculo da proposição da análise intencional.

BROWN, A.; COLVILLE, I.; PYE, A. Making sense of sensemaking in organization studies. OS, v. 36, n. 2, p. 265-277, 2015. CUNLIFFE, A. L.; COUPLAND, C. From hero to villain to hero: making experience sensible through embodied narrative sensemaking. HR, v. 65, n. 1, p. 63 – 88, 2012. DELEUZE, G. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1998. FAIRHURST, G. T. Considering context in discursive leadership research. HR, v. 62, p. 1607-1633, 2009. WEICK, K.; SUTCLIFFE, K. M.; OBSTFELD, D. Organizing and the process of sensemaking. OS, v. 16, p. 409-421, 2005.