Resumo

Inúmeras implicações do envelhecimento populacional precisam ser abordadas nos próximos anos, não só desde a perspectiva das políticas sociais, mas também de outras áreas das ciências sociais como o marketing. Os estudos têm se concentrado em melhorar o entendimento sobre o consumidor idoso do ponto de vista comercial, mas não em termos de explorar o processo de envelhecimento como uma oportunidade para transformar a vida do consumidor de forma positiva e duradoura. O uso indiscriminado do crédito para financiamento do consumo figura como um agravante na saúde financeira dos idosos.

A pesquisa tem como objetivo investigar a percepção do idoso sobre seu endividamento, avaliando se esta condição depende, necessariamente, da sua situação socioeconômica, ou ainda, se o fenômeno afeta sua satisfação com a vida. Interessa também compreender o que o endividamento significa para a terceira idade e se a representação dele difere segundo suas classes socioeconômicas.

A configuração multifacetada dos lares brasileiros acarretou em uma inversão de papéis sociais no seio familiar. Observou-se uma transição do idoso, de assistido para provedor da família, passando este a assumir um protagonismo no âmbito familiar por possuírem uma fonte de renda fixa, através de aposentadoria ou pensão, passando de fardo social a integrantes altamente valorizados. Para o idoso atender às necessidades de suas famílias o crédito pode ser a única alternativa disponível e o seu uso indiscriminado figura como um agravante na saúde financeira dos indivíduos na terceira idade.

A pesquisa incorporou uma abordagem mista, com traços quantitativos e qualitativos, na forma de dois estudos complementares, ambos utilizando como amostra pessoas com 60 anos ou mais de idade. O primeiro estudo buscou possíveis causas e consequências do endividamento através da aplicação de uma survey, que mensurou características socioeconômicas e Satisfação com a Vida. O segundo estudo se propôs a aprofundar a compreensão do significado do endividamento para a terceira idade, identificando a representação social do endividamento para este grupo através da técnica de evocação de palavras.

As famílias com menor renda, pertencentes às camadas socioeconômicas mais baixas e com maiores dificuldades em atender às despesas mensais, são as que se declaram mais endividadas. Uma análise de cluster constatou que, em um ambiente familiar onde há um maior endividamento, pode existir uma menor Satisfação com a Vida nos idosos. Além disso, o endividamento é compreendido por esse grupo específico através de nove categorias distintas, que variam conforme o nível socioeconômico do respondente.

O endividamento afeta grande parte dos indivíduos, onde 61% dos entrevistados declararam que suas famílias estão endividadas. Esse fenômeno é mais frequente nas famílias de menor condição social. Além disso, há indícios de que um maior endividamento pode estar acompanhado de uma menor satisfação com a vida. Já a representação social do endividamento difere dependendo da classe social do idoso. Enquanto para pessoas das classes AB, o endividamento é observado como uma irresponsabilidade, idosos da classe DE associam o endividamento a sentimentos e emoções negativas, afetando seu bem-estar.

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